Três infelizes carros encontraram-se
violentamente no cruzamento, beijando bocas mal amadas, desfalecidas com atual
desgraça televisionada. Do barulho de todos os presentes gritantes,
desconfiados que o homicídio seria mais culposo se o barulho estalasse em
ouvidos rústicos, acostumados com som médio de televisor nas tardes de domingo,
assistindo jogo qualquer, fascinado ao descobrir as invenções mundanas no
Fantástico. Três cansados do falatório, ali caídos, pouca culpa tinham, sem
sorriso na capa do jornal, anunciados com os nomes misturados, desfalcados por
obituário desalmado e artigo penal que julga mais as pulgas dos cachorros do
que os nossos humanos. Eles só estavam cansados do barulho do mundo, mas
mortos, ninguém poderia questionar.
Ando também tentando filtrar o som dos
ruídos mundanos, talvez isso que tenha cansado ao extremo meu corpo naquela
segunda-feira, antes do café manhã, que nem veio para dizer “bom dia”, pois
cansou-se e voltou a deitar, mas o corpo molestado por dores fortes na nuca,
fez o dia render dentro de hospital público, que capacitou perder horas do dia
tentando assoprar as mesmas horas do dia. Questionando o sistema financeiro, de
saúde e do meu próprio corpo, que ali, não agüentava mais os ruídos do mundo.
Sobre as crises que vêem pra intervir a perfeição dos atos, dos momentos que
deveriam ser serenos, mas interrompidos por corações mal amados, se espalham a
cantar no momento onde o silêncio deveria imperar.
Meus amigos me ensinaram a reclamar menos
se afastando de mim e me deixando só. Gritando as paredes dos vagões lotados
que dão mais sentimentos de solidão do que essa caverna escura que dominaram os
meus sonhos. Mas ao dizer que adorava reclamar, me ponho a questionar, ainda
empurrando o tempo para ele passar, mesmo sabendo que isso acumulará diversos
cabelos brancos e sei que estudiosos dizem que as responsabilidades fazem parte
do processo e que esse é o grande objetivo das nossas vidas, ainda me vejo em
vagões com menos capacidade e pessoas tentando se encaixar em espaços quase
nulos, incapazes de respirar ar puro, caindo pelas arestas e eu ali, tentando
ser eu mesmo, mas querendo flutuar pro meu mundo, que perdido, não sei mais
como encontrar.
Os sonhos ficam complexos quando os vinte
passam o cinco e assumo que estou com medo da vida, pela enésima vez, eu
admito. Tenho percebido a sagacidade otária do humano em querer participar da
vida de terceiros da maneira mais corrompida e não a mais edificante. Constrói
ilusões e carregam em crachás designações que imperaram somente umbigos e
bordados em panos de pratos sujos, fedendo a louça largada no quarto por meses.
Minha mãe dizia para pendurar uma melancia no pescoço quando quisesse aparecer,
mas ando vendo feiras de frutas inteiras desfilando seus colares coloridos nos
arredores desse planeta, confabulando a nostalgia pragmática de narciso e seu
belo mergulho sem volta, amando somente o brilho do seu reflexo e nada alem
disso.
E ao perceber que no carro que havia se
abastado menos com a colisão ainda havia um coração a bater, a se esconder nos
barulhos de flashs e alardes de pessoas desconhecidas, desabando a dizer como é
desonesta essa vida e que muitos tinham muito o que viver, os sensatos se
calaram. Postaram suas forças a favorecer os que firmemente trabalhavam para
remoção dos destroços, pois dali, sobrara vida para resgatar e humanizar
vitorioso do duelo barulhento, nesse trágico acidente no cruzamento, espero
tirar conclusões boas entre todos os lamentos, pois acredito haver cabimento
até mesmo nos dias de chuva dessa Primavera, que insiste em não visitar o nosso
jardim, já cansado de tanto chorar ou se arrepender por pequenas atitudes,
daquelas decisões mal tomadas, precipitadas, intrometidas e irrevogáveis, que
cá estou, para tentar acumular novos pensamentos para enfileirá-los amanhã. Em
uma nova guia e pré-produção de bons dias para seguir e desfilar entre os
sorrisos novos que quero dar, guiado pela leveza e de explicação que só cabe
pra quem tiver bom coração e saber entender, que no vazio clichê de saber que a
vida é curta para se arrepender, então siga, pois quando os cabelos realmente
estiverem brancos, é legal saber o numero maior de rimas e a vida fará todo
sentido.
Eu acredito em teorias de conspiração.
Leo Arima.
Um comentário:
Estava eu aqui, quase em abstinência das suas palavras, vendo a alegria de você me salvar com esse texto.
Obrigada Leo.
Sempre, obrigada por escrever!
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