1 de abr. de 2011

#ABRIL - Vinte dias


É de se desesperar quando o telefone toca e ninguém atende. Ele tinha tanta certeza que poderia falar. Isso te ofegava, caminhava encostando a cabeça na parece, batendo em tempos o pé na quina do rodapé. Com o coração digitava os números várias vezes seguidas, temendo ter digitado errado e por isso o telefone só chama. Vários pensamentos rolaram durante um tempo, até que resolveu se acalmar. Idiota ser assim, mas locutor não tem opinião, devo contestar por hora, mas é um erro atrapalhar a continuidade do caso.

Horas passariam abreviadas na ansiedade do coração falante, esse que de irritante, é melhor não citar. Despercebido, arrumou passatempo e administrou assim. Estava em uma sala enfeitada por uma bela poltrona, grande como dos nossos avôs. Criado mudo ao lado para apoiar livro ou controle remoto. Afogou-se em sono profundo ali mesmo. Descontente em esperar, dez minutos sentados trouxeram-lhe preguiça concentrada e apagou.

Notas no ouvido pra dizer que estou bem, caminhei pela tarde, mas ainda estou bem. Deu oito passos em linha reta, cadarço desfez-se, bem feito capitão! Honestamente trajado para guerra, armado, com as mãos segurava com força um bastão. Antes de conhecer a força da sua violência, começou a nadar pelo espaço. Estava tão leve, estava tão calmo. O céu ficou branco, as nuvens todas se tornaram uma coisa só. Unificada no olhar, ele boiava no leite e escorria, refletindo dias passados. Foram vistos climas intensos, certezas e confusões. Mas eu ainda sou um moleque, me deixa errar? Retruca essa desavença outra hora. É muito pensamento acumulado. Se continuar assim, suas histórias vão ficar pelos cantos e vai envelhecer. Sei muito bem disso! E foi isso que ela quis dizer e você tonto. Tropeçou no cadarço mais uma vez. Bateu a cabeça e acordou.

Que tonto.


Beleza de soneca depois do almoço, perfeita pra deixar com mais preguiça e esticar os pensamentos que ficaram presos na manhã ocupada. Desistiu por vez do telefone e permaneceu sentado. Sem esperar muito, a porta se abriu. Vestia jeans e camiseta. Tênis cobrindo os dedos e a melhor explicação seria você mesmo poder ver com seus olhos a beleza dessa personagem que adentra a trama no atual momento. Tomada e luzes preparadas, ajeitada como pétalas delicadas, aperfeiçoando a visão daquele que pode olhar.


- Essas horas e já está deitado? Cansado, me conta do seu dia!

- Dia de telefone que não funciona? Espanta essa nobreza!

Olhos cruzaram-se como fogo atirado com raiva de menino que cresceu longe do açúcar. Essa não é uma história leve. Mexicanos fariam assim:


- Por que raio demora a reconhecer que amo seu coração dessa forma pulsante?

- Oras, preciso de um mar de declarações para aceitar suas considerações! Olé!

Italianos amam demais suas mulheres, evitam brigas e acho isso o lado certo. Comecei errado na interpretação do amor nessa dissertação, falei do peso e esqueci-me de amargurar menos. É amargurando que a gente espanta o que faz bem e sem querer cai aqui. Sabidos são os italianos.

- O que tanto queria falar comigo que não podia esperar que chegasse em casa? Aqui estou do mesmo jeito que sempre estou! É de se duvidar de algum passo meu? Só se for, mas estava na rota que já conhece, algo hoje te aborrece?

- É do italiano que ama demais que devemos falar, eles sabem das coisas. Disse assim o locutor. Queria só te avisar para chegar mais tarde. Tinha um jantar para lhe preparar. Só sei macarrão como sempre, mas com a calma, queria muito te agradar.

Olhos deixaram de queimar lentamente, clareando a visão recíproca. Agora gostoso de encarar aquela menina descrita em adjetivos marcantes, é só rebobinar um pouco essa fita que vai encontrar a explicação. Abriu sorriso de meia boca, depois virou sorrisão.

A luz baixou-se como faria Bertolucci, na Paris que se ama. Passos levou os corpos para uma proximidade linear. Boca bem perto, quem precisa gritar?

- abraça-me?

- abraço-te!

Giraram e gritaram. Senhor do Tempo prega um prego nesse ponteiro e deixa-o encostado por um Tempo. Deixa de castigo enquanto a vida acontece, se ela passar muito rápido. Volto aqui só pra reclamar. Mas sorriso já predominava, nenhum problema do mundo contaminava. É de algo que só entende, mas não premedita e nunca é avisado. Só sei de uma coisa.

- estou no melhor lugar do mundo.

Premeditando a conclusão de maneira calma, como deve de ser. Enfeita verbos espalhados e muita repetição, é a ordem natural dos casos parecidos mesmo. Aqui, ali ou em qualquer lugar. A vida é circular e as histórias sempre se parecem. Mas se o bom é o que faz bem, é melhor se empenhar.


Luzes coloridas enfeitaram o ambiente até o desfecho geral da luz.


Processos contínuos e vamos aprendendo assim.



Leonardo Fonseca

Um comentário:

Juliana Hipólito disse...

Muito obrigado por comentar no meu blog, fico muito agradecida! Embora sua fala seja meio complicada e eu não entender muito bem o que você diz...