14 de nov. de 2010

#VINTEALGUMASGRAMAS - Estranho esse complexo da passagem

Coração vagabundo que parou de bater, foi na esquina, se perdeu e não voltou. Intoxicação alimentar e três dias sem dormir direito. Sono leve, sonhos pesados. Ditadura militar e rosas partidas. Cartas rasgadas por todos os cantos. No canto da sala um adesivo velho. Deputado estadual, federal e animais pela televisão. Sozinho viu tudo passar sem o tempo se quer ter sensibilizado seu coração vagabundo, desacostumado a gostar de alguém nesse que não aparece. Sem novela, sem verdade, sem praticidade alguma. Anti-social ficou em casa mais uma vez e desligou o celular. Bebeu tanto na noite passada que perdeu todas as amizades de uma vez só. Faz aniversário e não convida, não leva bolo e gasta tudo em cerveja. Ser assim é fábula pura, desencanada. Usa todos os dias a mesma roupa e não se importa mais. As preocupações foram criadas para você ter no que pensar durante o dia. À noite você dorme, quando consegue, eu mesmo, três dias acordado, só pensando, meditando e sem encontrar solução. Faz médio sentido. Mas não sei onde foi parar tudo aquilo a seu respeito.

Coração ranzinza, cansado de gritar. Caminhou desde a bebedeira no encontro da solidão. Luzes apagadas pela casa e som na meia altura. De leve canta, mas chora tanto, que se arrepende de ter começado a soar a primeira sílaba desse verso triste. Teorizou os próprios sentimentos, que coragem. Sai na rua e não percebe mais as pessoas, cada um tem um título. O seu é de idiota. Quer acreditar na possibilidade do tempo parar, mas ele não vai parar. Vai continuar indo, no encontro único da barba que nunca vai deixar de aparecer, seja uma vez por semana ou duas. Teorizar o tempo é uma doença horrível. Enquanto percebia a falta que me faz, pensei nisso tudo. No que foi e não volta e o que está por vir, vai deixar saudade. Sorrir com o passado é engraçado. Sonhar com o futuro. Ter medo, ter tanto medo.

Distanciamento não é solução para causa alguma que espanta esse coração vagabundo, choro às vezes, quando sinto a falta da vida correndo rápida ao meu lado. Nos dias que já se foram e me dão muita saudade. Amigos ocupados até depois da meia noite. Solidão amiga virou vadia, jogada as traças. Esquerdo, lado do peito, sorte ou desejo de mudança. Capacidade pouca, mas absoluta daquele que pensa constantemente e não para de falar. Fica quieto para ouvir, mas só de reparar, já perde atenção. Pulou a catraca e correu até as escadas, desceu rápido e pegou o último vagão. Lá, mais ninguém. Exemplo de silêncio, mistificado com o som dos corredores que passam. Com força. São quilômetros rodados em linha reta.

Coração escroto podia se apaixonar, ficar mais tempo pensante. Sorrisos, mãos pelo corpo, palavras ao pé do ouvido e cheiro de cabelo. Adoro cheiro de cabelo feminino. Mãos macias, rosto delicado. Acordar e te ver tocando violão na cama, cantando. Bilhete na mesa da cozinha, dizendo que me ama e que não consegue viver sem mim. Ver-te em todos os lugares, pensar em todos os lugares. Declarar que aquela música é tua e de mais ninguém. Amar-te como nunca amei ninguém.

Casados sobre a areia da praia, todos de branco. Luz baixa, som do mar.

Caminho na incerteza de um dia que quero me sentir num complexo mais maduro. Que ainda seja possível ver todas as cores, sentir todas as energias ao mesmo tempo. Voltar suado e desejar para sempre aquilo que tenho e admiro. A possibilidade de viver pela graça de viver. Pela graça de cair e poder levantar todas às vezes. Duvidar de si mesmo só para rir depois, quando vê que errado é achar difícil, que tentar é a coisa mais divertida da vida.

É um tempo que o coração pediu pra ele

E hoje só posso respeitar.


Ter vinte e quatro anos é muito complicado.



Leonardo Fonseca

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