28 de mar. de 2011

#AZUL - Contos e Estrelas

Cena 1 – De leve no início, para não assustar.

[Menina entra pelo lado direito do palco com um livro de capa vermelha em sua mão. Olhando fixamente para frente, sem olhar, abre o livro, ainda caminhando, segue até o foco de luz no centro do palco. Direciona os seus olhos para o livro e começa a ler]

- Explode coração em borbulhas cor de rosa, flores espalhadas no milharal. Seguindo do cuidado que deve ter ao atravessar as ruas. O menino perdeu-se mais uma vez do bando e ficou para trás, perdido no bosque, procurou caminho correto durante um tempo, mas coitado, deve dormir desamparado na noite que está por vir. De tanto reclamar deu nisso, representou muito mal os meninos de boa fé e agora precisa se concentrar para sofrer menos nas passagens do relógio nesses tempos que estão por vir. Prestar atenção devida vale muito à pena.

[Ainda no foco a menina interrompe a leitura, olhando agora para frente, entorta a cabeça para o lado, fazendo cara de dúvida. Segura o livro com uma mão e leva a mão livre para o queixo, indagando algo, questiona em voz alta]

- História de menino perdido, mais uma vez. Cantores falam de amores que nunca acontecem e ainda vendem em promoções de discos falidos. Lucrativos em tempos de crise. Bendito seja a crise matrimonial, dando dinheiro para esses aí. Lendo as linhas que foram, percebi um tanto de coisa que tinha deixado passar. Similares as histórias, dizem combinações úteis, cabíveis nas atitudes próprias também. Esse livro conta uma história. Sério, ele conta uma história. Parece redundante, mas é verdade! A história de um menino. Tá! Sem mentiras! É a história de um menino e de uma menina. É muito grito para me concentrar, mas vou tentar contar sem alvoroço tudo que preciso para concluir, sem ficar perdida. Eu prometo! Histórias assim acontecem aos montes e fica difícil controlar a garganta quando as palavras são ditas rapidamente. Gaguejo e perco os verbos pelos cantos.

[A luz é abaixada levemente, deixando o palco todo escuro. Com todas as luzes apagadas a voz da menina soa mais uma vez, introduzindo a história que estava para tomar partido]

- Enquanto uns comemoravam o frio do inverno, feito louco, um menino tentava de todo jeito parar as infiltrações. Era tanta água escorrendo pelos cantos que de certo, qualquer um ficaria louco, mas como um bravo guerreiro, a luta começou assim.

Cena 2 – Quando explodem os canos e foge água por todos os lados.

[As luzes sobem, agora vemos o saguão de um hotel, peças douradas e brilhantes detalhando a escada ao centro. Enfeita bem o cenário. Com as calças dobradas, dois funcionários do hotel tentam parar á água que cai como cascata pela escada brilhante. Vazamento lá cima, estourou um cano talvez. Perfeito no que parece, mas acidentes acontecem. Unido aos funcionários, menino de olhos puxados fazia grandes ondas com um rodo gigante, empurrando porta a fora a Tsunami que dominava o mar norte daquele espaço]

- Amigos, companheiros! Continuem a remar, esqueçam as suas frescuras, é água! Pura e verdadeira. Só molha e se tomarmos vitaminas, ninguém aqui vai adoecer, levem isso como promessa e continuem a jogar toda água para fora. Antes que seja possível nadar aqui dentro. Remem amigos, remem! Sente calafrios como eu?! Água gelada que desce como corredeira. Rio abaixo o marujo precisará de banho quente e não duvido que queiras um chá!

[Girando como se dançasse com o rodo em suas mãos. Valsando e atirando muita água para fora, animou todos que contribuíram com a sintonia, dando um só movimento para todos os corpos presente no palco. Agora todos dançavam muito. Eram giros enormes, pareciam poder voar. Divertiam-se e sorriam largamente, chegaria à hora da água conceder trégua, mas antes que isso acontecesse, uma menina de vestido florido, todo molhado. Desceu fumegante os degraus, com seus cabelos escuros. Não aparentava alegria quando começou a gritar]

- Ato de menino irresponsável, já era de se imaginar. Tonto fica girando e esquece-se de ajudar. Semelhante aos que ruminam, nessa sua arte de mascar até o chiclete virar pedra. Esticado no chão! Deveria ter mais respeito e conceder ajuda verdadeira e não essa dança medíocre. Meninos são sempre muito tontos, não sei quem ainda perde tempo contratando trastes assim!

[Apresentando a menina, antes que as semelhanças tomem conta. É calma. Em toda via, é muito calma, mas com seu cabelo molhado, foi assim em voz alta que resolveu se revoltar. Não queiram avaliar a minha personagem com essa entrada, se bem que é burrice minha explicar, mas em uma situação como estas, seria impossível não gritar]

- Parem de dançar e me expliquem, por favor! Por que tanta água, de onde que vem? Parem de dançar! Parem, levem um pouco tudo mais a sério, estou ficando tonta vendo-os rodar.

[A menina parou no meio da escada, com as mãos na cintura e sobrancelhas nervosas, acentuadas e imperativas. Muita água ainda escorria, mesmo assim continuou a não ajudar e isso fez menino que ainda girava parar e perceber que precisava direcionar alguma palavra nesse momento, eram só gritos e pouca positividade, precisava de mais leveza e não custava nada falar]

- Menina boba, como disse, é só água. Chá quente e um bom banho. Resultado imediato ou o seu dinheiro de volta, serviço garantido e doze meses de garantia sobre o produto, se danificar a culpa deixa de ser minha, passei tantas dicas que só me faltava desenhar.

- Falas assim, mas foi teu cabelo que encharcou? Percebe-se que não, menino tonto e cheio de bobagem, fica ai dançando, passe menos vontade. Chá quente? Vou te mostrar! Pare de me aborrecer! Difícil tratar com crianças esses casos de adultos, maduros, sabem mais do que você, percebe tão pouco e fala igual um bobo. Gira, pode girar, custa-me pouco te ver como um louco!

[Enquanto discutiam, assustados os funcionários que valsavam, desistiram de acompanhar a cena e saíram um para cada lado. Com cara de irritada, a menina começou a descer os degraus que lhe restava para chegar à altura do menino, que com o rodo da mão, assistia os passos rumo ao solo. A Menina então parou em sua frente e com o dedo indicador elevou ao ponto mais alto suas notas mais agudas. Para evitar que o clima piore, não vou transcrever os insultos que a menina dizia em voz alta. Politicamente incorreta, discorria sua ira momentânea com muita força. Tem momentos na vida que realmente devemos deixar que os nossos companheiros soltem para fora os seus temores, quem sabe assim não encontremos um sossego? Após o último acorde agudo, a menina abaixou o dedo apontador, respirou fundo e deu uma pequena brecha para que o menino tomasse a vez]

- Acalme-se! Só pode ficar calma, tente.

- Ah! Valha-me, como pode pedir calma?

- Acalme-se, é só respirar, seguindo puxar e soltar, não dificulta, é só respirar.

- Se a vida fosse um remédio com bula, acompanharia os seus passos, mas diferente disso, é só palavra que entra por meus ouvidos e tomam forma em minha imaginação. Ou seja! Tolices. Tolices de um menino que não sabe de nada

- Dúvida de uma coisa?

- Do que posso duvidar?

- Que no mundo és especial, mesmo com todo esse nervosismo, posso te provar facilmente o seu nível elevado, aqui perante aos níveis especiais da vida humana. Sem concordâncias verbais, pois essas cansam demais. Fato! É Especial!

- Menino tonto, tá querendo me enganar?

- Eu acho que não!

[Antes que tomasse as mãos da menina de contragosto, logo as agarrou. Puxando para perto de seu corpo, envolta em abraço apertado. Ela não parecia aborrecida, dando a liberdade para o primeiro giro conjunto, levando os dois corpos a parecerem um peão, após o décimo giro, que agora tomara proporções maiores. E os dois giravam, esparramando ondas em tubos para os arredores, até quando essas criaram corpo, assumindo a forma de um rodamoinho, gigante. Quando encontrou o último nível do crescimento, a luz do palco se apaga. Acompanhando o desfecho da grande onda]

Cena 3 – Breve conclusão de um só brilho teu.

[A luz volta suavemente, mostrando que agora o menino e a menina não giravam mais. Sentados no centro do palco, olham para cima, pescando estrelas com olhares contínuos. Arriscando palavras, o menino voltou a falar]

- Brilho inexplicável de estrelas nomeadas pela paz de quem possui ternura para apreciá-las, conta com calma cada, mirando com a ponta dos dedos. Nomeando como Ursa Maior a estrela mais aconchegante. Te levo para lá durante as férias do meio do ano, com paciência vamos chegar lá, antes que o sol acabe com a noite. Desejaria o relógio parasse, explicaria mais uma vez, que é só ter calma. Olhar para cima e perceber a quantidade de luz que te ilumina. É muito pensamento bom refletido ao mesmo tempo. Sanduíches naturais e bolos de chocolate

- Era um pensamento leve que me faltava, desculpe pela indiscrição das palavras gritadas no saguão, foi descabida cada consoante mal posta, indevida. Gritei demais, desculpa-me por esse momento insolente?

- Quem lhes deve desculpa sou eu! Continuei dançando e não respeitei seu corpo molhado, encharcado, ganhava direito de se aborrecer e fez o devido. Pendemos para todos os lados em momentos marcantes. Vamos prestar atenção nas estrelas e torcer pela oportunidade de conhecer a dimensão desse Planeta Terra, que cabe saudade na mesma quantidade que nasce um bebê, esse que sem saber, sorri e continua a viver.

- Ei gordinho, vê aquela estrela que brilha tão forte ali em cima? No lado direito! Palpitando igual coração apaixonado?

Sim, estou vendo! E vejo que ela está a brilhar só por você. Aproveite!


[Luzes se apagam]

[Cortinas se fecham]










E eu continuo a sonhar amanhã


Boa noite.



Minha Terra do Nunca Pessoal


Leonardo Fonseca

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