16 de mar. de 2011

#MUNDODALUA - Exploração conclusiva em primeira pessoa de uma missão que não teve fim

Com as costas cobertas de areia, levantou e bocejou. Avistou todos os cantos possíveis. Seus olhos diziam ser ali uma praia, estavam banhados por todos os cantos, diversas ondas e pequenas casas espalhadas. Pessoas organizando suas varandas. Simples, pareciam feitas com bambus, construídas a mão, enfeitadas por orquídeas de diversas cores. Vermelhas, amarelas. Crianças correndo e cachorros sem coleira, todos atrás de uma bola que veio até o Astronauta. Patente deixada de lado após fatídica explosão, acontecida a sinônimos anteriores. Discorrida em detalhes pelo narrador. Sobreviveu e isso que importa para que a história tenha conclusão. Partiu da Terra a meses e perdido no espaço pensou um pouco de tudo, mas nem toda solidão foi suficiente. Cabe a ações dizer os componentes certos para que a narrativa tenha uma ordem sincera. Compatível com o desejo do ser que se preocupa tanto com as horas. Escolhe o programa do almoço, pingando gotas de alguma coisa que não engorda. Tomou remédios e perdeu a sensibilidade. Ansiedade, não teve. Espatifou-se, foi essa a missão e seu fim. Todo início é predestinado a terminar. A morte após cada dia respirado. Tendência, sistema natural, ordem natural da evolução. Estranho é só encontrar-se aqui, deparado a algo que não teve fim e que precisa de um apresso maior. Cair e não explodir é uma segunda chance, avistando ainda um sorriso, que temeroso, esqueci de contar nos verbos espalhados anteriormente.

E assim que eu acho que deve começar o final dessa história. Deixa pra lá o que passou, todos os erros resultaram no poste que foi implantado na frente do meu prédio, mas ninguém percebe. É uma doença louca essa mania de ser trágico e reclamar do ócio. As histórias são pateticamente parecidas sempre. Dizendo a forma de ser e de saber o que está para acontecer. Prefiro terminar bem, como os dias que acordei observando dentro dos seus olhos e o cheiro de todas as coisas boas que estão espalhadas pela espaço nave. Enquanto formava pensamentos novos e aceitação ao novo ambiente, nosso Astronauta continuou somando a situação em que vivia. Como uma tartaruga tirada do casco, ou aquele que perde uma moeda e reclama da fortuna. Avaliar é a forma mais fácil de abstrair os melhores momentos dessa vida. Tapam os dois olhos e nem percebe. Seguia reta a menina que o recepcionou, ainda em silêncio. Ajudou-o levantar e sem protestos o puxou a caminhar. Era simples e calma, transparecia ser de pouca briga e mais questionamentos leves. De como água deve fluir pelo corpo quando absorvida. Parecida com a respiração bem realizada. Seguia.

Trezes minutos de caminhada os levaram até um chalé, onde foram recepcionados por diversas pessoas, muito parecidos, mas todos diferentes. Sorrisos grandes e outros tímidos. Reparando no forasteiro que ainda trazia consigo a estranheza das vestes de um Astronauta. Muitas mãos vieram até ele, limpando a sujeira espalhada na armadura branca, enquanto a menina partia para o canto da sala. Houve ali uma nova sensação, novidade para o coração que até o capítulo anterior, parecia só se preocupar em bater e ser funcional. Estava protegido. Dois rapazes agarram sua mão e o levaram para o centro do chalé, após dois passos a sua mente desligou e seus olhos fecharam como uma pancada forte, seu corpo foi ao chão. Deve ter sido um susto, mas esse resultou em desmaio. Aqueles que estavam mais perto acudiram, mas tentaram não mover muito o corpo, para que problemas maiores não ocorressem.

Levado para uma sala de repouso ele dormiu por dois dias seguidos. Ao acordar percebeu vestir roupas de uma cor só. Calças leves e uma camisa feita à mão. Percebeu uma movimentação estranha fora da sala, levantou e foi averiguar o que se passava. Pessoas formavam um círculo em volta de um senhor, como nos clichês, barba branca, sentado em um banco. Pareciam todos maravilhados com cada palavra que soava ali naquela reunião. Após perceber o último rosto presente, como um cheque mate o senhor deu de encontro aos seus olhos viajantes. Fixos em uma conexão transparente, ele continuou a dizer suas palavras e as pessoas continuaram a observar. Estático, fixos, quando soada aos cantos a canção foi declamada.

- Bem vindo! Acaba aqui a lamentação final de todos os desejos soberanos. Perceba que nunca quis nada. Foi superficial, foi idealizado por planos padrões. Aprenda aqui a novidade, a possibilidade, à capacidade. Excluir as tentações é a forma nobre de inibir as condições que a vida se impõe, mas é interessante se adaptar também, como no mar que a respiração deve ser contida ou as braçadas em uma piscina olímpica. A variação depende do meio e a elevação mental em cada ponto deve sempre ser mantida. Reparando no processo inteiro. Esqueça a preguiça em casa e faça sempre a coisa certa. Certo para você e aquilo que te alimenta. Alimente-se bem também. Maneira de agradecer o maior presente que já te foi dado. Material como tudo aquilo que dizem que tens, mas ao menos de valor ao presente. Ao corpo que há de padecer, mas enquanto robusto, continue a lutar. Tens força o bastante para ser guerreiro e continuar. Errar, cair, levantar, assobiar. Cada qual com a sua dificuldade vigente. Feliz Ano Novo Astronauta. Feliz Aniversário Astronauta. Entendas que aqui é o principio da segunda parte do primeiro momento da sua vida. Após a explosão da Nave Mãe, segue sua linha e parte até os próximos planos. O que couber dentro do seu enquadramento, não deixe de fora. Agregue todas as amizades que te mantém.

Uma vez me contaram a história de um menino muito parecido com você. De um mesmo planeta e de uma mesma condição. Não era de longe e também não morava tão perto. Partiu para lua aos vinte um anos, perdeu-se em becos estranhos, pedindo qualquer poeira para adiantar os relógios. Abstraindo a dor de estar preocupado com a necessidade de estar vivo. Comeu a Lua inteira e ao final do verão percebeu que estava tudo fora do lugar. Lembra-se, não ouviu direito e seguiu para esquerda. Certeza que aquele senhor ali atrás lhe disse que devia seguir pela direita, mas quis complicar, perdeu-se em pensamentos toscos e parou no caminho contrário. De tanto errar, chegou a chorar em desespero. Amparado em braços fortes, clareou a novidade, fez revolução e até mais do que podia. Estendeu uma bandeira enorme em seu quarto e hoje, depois de muitas noites sem dormir. Pode-se dizer.

Que estou muito feliz.


Uma chegada para dia hospedado longe da minha realidade. Astronauta Arima da Fonseca. Perdido no espaço durante anos a fio, perdeu-se dos pais quando ainda tinha tempo, achou uma mão e voltou ao solo e agora pode enfim, viver seu sonho e viver.

Abriu os olhos e era São Paulo, basicamente Zona Sul. Sem capacete, colocou os seus tênis e partiu mais uma vez, é a normalidade, mas agora vista como a aventura de nossas vidas, fazendo emoção na proporção certa, para que tudo tenha sempre muita graça.


Obrigado.


Leonardo Fonseca

Nenhum comentário: