4 de fev. de 2011

#MUNDODALUA - Primeiro Passo para direita.

Decolou pontualmente enquanto doidos serviam chá. Suas esposas desesperadas arrumavam as golas de seus filhos, que ali apostos preparavam olhares para as nuvens que partiriam no primeiro contato com o Foguete do Um Só que da Terra sairia. Carregando um único tripulante. Astronauta de carreira, respeitado. Reconheceu que não haveria forma melhor de pensar só, do que estando distante do mundo.

Ao toque dos últimos gongos, bocas se abriram e uma menina de cinco anos começou a chorar. Na partida do pai, pensou em todas as cenas possíveis. Sem coração, partiram uma salva de palmas para a decolagem. Reverenciando a primeira ida, da janela quem pode ver, percebeu acenos tristes, querendo estar ali, mas não podendo. Separado por diâmetros frios de um vidro qualquer. Cinco passos e um abraço uniriam esse calor.

- Ei Terra, oito pés de altura nos separam e preparando para dizer Adeus aos pés que estão no chão. Dedico essa viagem aos necessitados de paz interior. Acolhendo no espaço, espero vagar e relembrar meus erros e reparar mais. Simplesmente ouvir. Por favor. Aplausos.

Foram estonteantes aplausos cronometrados em quatrocentos e cinqüenta segundos, contados um a um por um relógio preto. Descarado, ao fim, parou de contar. As mãos latejando diminuíram as notas vagarosamente. Os garotos foram com seus amigos brincar pelo pátio, enquanto seus pais se cumprimentavam. Um Só seguia para o Norte, sempre o Norte.

Extraindo fragmentos terrenos, a esfera foi ficando. Quando logo ali virou paisagem, logo ela, dona de todos os mundos pequenos das nossas cabeças. Do supermercado e da sua vizinha que largou o namorado. Azul, verde e pontos de luz. Pirâmides do Egito. Cheques pré-datados, Seguro do Carro, Imposto de Renda. Oceanos e maremotos sentimentais. Namorado que não ama namorada. Quando só se avistava Luz, o ali presente Astronauta resolveu dizer.

- Todos os problemas parecem menores daqui de cima.

Calou por cinco segundos, enquanto marejava sua retina. Ludibriado, resumiu.

- Cesane diluiria suas tintas e espalharia ao máximo, formando as luzes. Caravaggio com dois holofotes faria cinema. Einstein uma nova Rede Social e para cada um, só “Tudo Bem” responderia. Diluindo refrões para caber na programação. Resumindo versos para adentrar na história de maneira privada. Burocratizando a aparição de novas idéias. Como se a vida fosse uma empresa de Canais Pagos, onde você escolhe toda a sua grade de acordo com o seu nível de aceitação da esfera.

O Foguete agora parecia um lápis solto em uma piscina Olímpica. Cada vez menor. Iluminado por Leds e estrelas em tamanho real. Mais forte do que os postes da Avenida Principal. Seguia rumo ao desconhecido. O Astronauta levava consigo um roteiro, mas este estava em branco. Em tese, desejava perseguir aquilo que o tempo propor e desvendar a charada proposta. 

Percorreu um centésimo de tempo estelar e nada de novo aconteceu.

- Passando os canais perdi você e não tive tempo de voltar. Fora do horário, almocei tarde em todos os dias e ganhei no lucro uma gastrite. Ponderando colheres de açúcar para sofrer parcelado. Estranho essa somatória terráquea, quando a sua única obrigação é pensar. Velejar contra as estrelas, enquadrando horizontes com todas as luas possíveis. Mesmo assim. Sem a graça do contar, pretérito perfeito perde a graça. Esquece-se e perde um monte de assinatura velha de revista. Tudo no canto ali acumulado e nada para contar.

Discorreu assuntos leves sozinho para não afunilar de uma vez só todas as palavras que te lecionaram. Sílabas enfileiradas para uma tarde inteira, depois outras para o tempo que vier. Assim fez a primeira sensação. Remando por dias, sentiu o coração apertar. Com cadarços largos, entendeu bem pouco o que se passava. Destoando os compassos. Calado por dias, resolveu seu primeiro assunto dizer.

Dias antes de Marte, Astronauta descreveu assim.

- Será que sente como homem só sem parceria para guiar? Na medida do possível preciso conversar, espalhar palavras pelo alto para enlouquecer aos poucos. Dançando pelos cantos percebi que até a música perde a graça. Contei piadas pelos corredores e sai correndo atrás de todos os Ecos, malvados partiram para outro canto. Bateram a porta e impediram amizade. Reuniões ao fim da mesa e sociedade em pane. Preciso dizer e não tenho há quem.

Mas antes que fizesse presente o medo do fato, percebeu-se atmosfera vinda de uma pequena esfera. Repleta de furos parecidos com nádegas de repolho. Para baixo, superfície plana possibilitou aterrissagem com segurança. No piloto automático encaixou-se. Soltou fumaça e quando estabilizada, deslizou a porta, dando passagem a quem vinha de dentro da Espaço Nave.

Duas pegadas foram o suficiente para perceber que estava na Lua. Olhou ao redor e reparou em todas as voltas da circunferência. Em meia hora completaria uma volta, mas estava com preguiça. Deu mais duas pegadas e se deparou com movimentos à Oeste. Perto da Vila Madalena. Entretido com o que seus olhos perceberam, guiou sua vontade em conjunto da sua curiosidade e foi. Indo sem contar passos, percebeu mais uma série de movimentos e já algumas siluetas. Tem grande e tem pequeno. São duas formas. Caminhou mais um pouco e já com a possibilidade de denominar tais figuras. Percebeu um senhor usando ferradura enferrujada e um Alazão, magro, com pêlos ralos espalhados pelo corpo.

- Salve Jorge, és tu que eu sei. D’onde foi parar sua dignidade e a prosperidade do teu ser. A cor verde e o vermelho que te desenha. Onde foi parar a força do mito? Explicaria como essa seleção próxima de argumentos?

Ergueu um pouco a cabeça e o senhor postou a dizer.

- Denomina como queres a capacidade de contar uma história repetida. Percebe muito pouco o rosto de alguém que já sofreu com a partida. Da intenção de guiar uma reciprocidade gerei meu próprio conceito de solidão. Religiosamente percebo a carência. Falta sopro para erguer essa vela e partir para normalidade mundana. Já perdi as forças para futilidades. Para o Sol que só esquenta e para Lua que deixou de apaixonar. Despercebidos não miram mais sua fé para o desconhecido. Preferem projetar em suas contas bancárias e balancear os custos em pró de um aparelho novo de barbear. Diminuindo a chance de fazer com que todos vejam seu rosto abandonado, cheio de pêlos, declarando a velhice que chega e ninguém consegue impedir. Lá se foi meu Dragão e nem tive tempo de perceber. Solidão mata aos poucos.

Nostalgia, sem danças e coreografias.

- Percebo com mais calma a imagem que me tanto assusta. Salve Jorge o Meu guerreiro, com uma cartucheira quebrada sigo numa mesma. Aplicando conceitos, encaixando como peça. Caberia se houvesse um tamanho indicado. Mas ao esquecer preferi definir algumas coisas úteis e me perder pelo espaço para desencanar.

- Venço a falha de estar vivo e sobreo, mas esqueceram de garimpar vossos corações e clarear as tuas vistas. Abandonam seus reinados e depois cobram melhorias. Gritam por justiça, mas atiram no primeiro inseto que rodear. É injusto em ambos os sentidos. Qualquer segmentação vai te fazer mal depois de um tempo. Adianta limitar algumas coisas, mas a conclusão é uma só. E mesmo assim, ninguém teve coragem de perceber. Por isso estou aqui, sem meu Dragão que partiu, Meu pobre cavalo e a chance de pelo menos se esquecer do dinheiro ouvindo o universo. Sem reclamações e SPC.

Antes da última consoante o Astronauta já mirava de volta seu corpo para o estacionamento. Sua presença afetava diretamente o acontecimento, então preferiu partir.

Em poucos segundos levantou o foguete dali.

E por alguns dias, teria muito sobre o que refletir.


.. continua





Leo Fonseca

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