24 de fev. de 2011

#MUNDODALUA - Chegada ao Mundo da Novidade


Calcular o tempo equivalente da distância entre o Planeta Terra e o Sol é uma tarefa para contas com X, Y e Z. Barra e número fracionado. Pegue uma folha de papel e circule muitas vezes com a caneta. Aperte o primeiro botão do controle remoto e preste atenção no colarinho do apresentador de TV. O tempo não passa assim. Faziam noites, ou dias, depende do ponto de vista, que o Astronauta não pregava descentemente os olhos, era encostar a cabeça e enfileirar bases sólidas de problemas recentes. Pesados demais para à hora do sono e acostumado a conversar sozinho, só prolongou o bate papo de horas atrás. Estranho nomear como interessantes os dias que estão passando, é como estar de óculos escuro o tempo inteiro esperando por um Sol que bate de pouco em pouco. Praticar a paciência é uma constante aqui, intensificando pelo contrário, lembra-se que tudo que tem humano, foi feito por humano. Errado, criado, efetuado até a carga final. A mão do robô e a massa do pão. Toleráveis os desníveis, em demanda da solidão. Parecia perfeito ainda não estar louco. As câmeras espalhadas encontraram imagens jogadas de momentos de pré-insanidade, dançando em frente ao espelho e gritando músicas, mas creio que todo mundo gosta de festejar o silêncio.

Habituou-se a organizar tudo desde a hora do café, mas no deslize das últimas noites, acumulou pó espacial nas quinas dos objetos da mesa, tanto faz! Sem visitas a importância diminuía. Santa Burrice acumulada na mesmice da semana. Agite antes de beber é um lema espalhado e a cegueira impede o segundo ponto de vista. As estrelas são números e é só girar a cabeça para esquerda que a matemática vira arte, aos presentes, muito bem colocado. Arte combina mais comigo. Estrelas contam tudo, só entende quem pode. Poder é ambíguo, recrimina e discrimina preposições. Imperativo ou superlativo. Romanos lavando suas mãos diriam.

- Você não devia ter feito isso!

É só fazer do jeito certo, que tudo dá certo sempre. Iniciar com a poeira da mesa foi a melhor maneira de explicar o próximo tropeço avisado. Os móveis estavam fora do lugar, às cabines sem lustrar. Era costume perambular pela nave, com capacete encostado na beira da cápsula do sono, que parecia um casulo branco. Espelhada, agora por marcas de gordura. Dali para os grandes corredores sem pressão do ar, nadava a depressão, quicando de um canto para o outro. Faltava algum vídeo game, jornal atualizado. Se houvessem domingos, entretenimento seria o de menos. Mas lendo uma revista da minha irmã em verões passados, descobri que cada ação, tem uma reação. Ilustrando melhor, seria como cheque sem fundo. Ainda há a chance de alguém achar que aquilo ainda vale de alguma coisa, então ele vai e volta. Olhar feio. Respondendo a ação, o alarme começou a soar, atento, o Astronauta zarpou até a mesa de controle, onde vários botões coloridos piscavam ao mesmo tempo. Havia uma tela enorme onde se via os trechos dessa expedição. Parecia tudo intacto, mas foi só pensar que o alarme gritou mais forte.

- Alerta! Alerta! Alerta!

Em miúdos, era problema demais para um só! O monitor enorme desligou e metade dos botões parou de piscar, alguns se mantiveram da cor original, outros ficaram avermelhados e aos poucos todos começaram a desligar sem força humana. Abaixo das cabines de sono ficava a entrada para o maquinário da espaço nave, diferente dos foguetes que estamos acostumados a ver na TV, tínhamos muitas peças emborrachadas, com curvas nas beiradas. Material todo sintético. As peças possuíam um espaço dentro desses objetos. Sem esforços o Astronauta acessou o maquinário. Parecia muito normal, a excelência da posição inicial mantinha-se intacta. O alarme deu mais dois gritos e parou. Coração acalmou junto do sinal de alerta. Simultaneamente correu para ver se estava tudo bem no restante da nave e percebeu que estava tudo no lugar. Porém, no balanço das coisas. Painéis desligados e baixa luz. A espaço nave seguia sendo levada pela pressão equivalente. O motor parecia desligado, assobiava baixo. Mas tocava.

Permaneceu preocupado durante meia dúzia de dias, redundante como águas passadas, trouxe a tona o desprezo pelo presente e descansou. Foram absolutos quarenta dias descansando. Assistência técnica espacial leva mais de duas vidas para chegar e atender os problemas da nave. Descansar era uma boa pedida. Imagine vários Domingos espalhados nas folhas do calendário, com a peculiaridade de não haver luz. O que você faria? Só o calor impediria sonecas prolongadas, siestas intermináveis. Sem esforço o improvável aconteceu. Fazia muito calor por todos os cantos, inclusive dentro do casulo de dormir. Os dias esquentaram aos montes, sem seu guia ficava complicado saber e o calor se tornou desespero pela primeira vez. Todas as probabilidades negativas estavam presentes em um enredo só, somente mãos boas considerariam a vida desse Astronauta. Precisou de fogo para acordar.

Tornou-se impossível contar os dias, o calor tirou toda concentração daquela cabeça. Estudos dizem que quinze dias são o suficiente para que todos se acostumem com novos hábitos, sejam eles bons ou ruins. O ruim torna-se vício e o correto um bom regime, vida com qualidade e leveza. Suficiente para memórias agradáveis. Com seu filho, férias passadas, antes de partir. É de costume sentir o calor do litoral no mês de janeiro, entre os dez primeiros dias, ligados com o ano que acaba de começar. Foram dias bons na fazenda também e fazia muito calor. Rotina estraga relacionamento, em novelas dos anos oitenta já era mais do que banal. Assunto passado. Resumindo. Viciou-se, caiu na rotina do contrário, foi direto para cereja e esqueceu-se da massa do bolo. Encontrar alguma solução era o único passatempo visível para essa temporada de calor. Fuçando, ouviu um aparelho velho ligando na mesa de controle. Direto ao foco do ruído remanescente, ouviu monitor enorme iniciando. Milagre ou sorte de preguiçoso.

- Astronauta você consegue me escutar? Estamos perto do Sol! Estamos perto do Sol!

E logo tornou a desligar

Conheço bem sorrisos e seus propósitos. Fiz tudo errado até aqui né? Devo realmente me preocupar nessa altura do campeonato? Essa fantasia ridícula me deixa com vergonha. Nunca vou tirar aquela menina para dançar. Sim, o tempo passou e você não aproveitou, agora se acha assim. Desse jeito aí! Dá vergonha de sair dessa tal cabine do sono. Era o mais esbelto da turma e adorava o jeito que me admirava. Errei. Mas que discurso que cabe para o presidente dessa besteira? Era calor demais para Astronauta algum atenuar seus pensamentos. Sem efeitos especiais a espaço nave se tornou em poucas horas depois do arrependimento uma imensa bomba em movimento, a inércia causou fogo na ala esquerda do foguete, devido alguma explosão recente. Voava mais rápido do que antes, resfriando o calor e o coração. Percorreu o céu quanto pôde, desenhando linhas brancas por onde passava, se soubesse antes que haviam planetas a mais na nossa galáxia, tinha prestado mais atenção nas meninas da minha sala do que naquela professora. Escandalosa, mentiu! Mercúrio, Venus, Terra? Sol? Famigerado sol, delinqüente. Quente, não! Ali não haveria somente o sol, não nessa história.

Grande esfera surge no vazio e a espaço nave caminha em alta velocidade nessa direção. Logo rompera órbita desconhecida. Continuava bem rápido, então cortou algumas nuvens e adentrou um planeta novo. Havia pressão atmosférica e a velocida triplicou. Sedado até aqui o corpo do Astronauta vagava com os movimentos, seguro pelo casulo.

Até o momento da explosão final.

Destroços espalhados em uma praia de poucas ondas, parecia uma lagoa enorme ligando ilhas em forma de pequenas esferas, bem dispostas e organizadas. Havia casas de madeira pré moldada em todos os cantos ali. Sorte dos habitantes, o foguete não promoveu nenhuma discórdia arquitetônica no recinto. Sem danos ao perímetro. Se houvesse uma maneira de olhar de cima para baixo, perceberia que haviam pedaços maiores em meio jogados na areia. Um bem no canto, sem afetar, mas encostado na divisão entre água e areia da praia. Era o casulo, inteiro. Arranhado, mas melhor assim. Definitivamente melhor assim.

A noite virou dia e como era de se esperar, amanheceu. Movimentos interessantes diziam que aquele planeta possuía habitantes. Extraterrestres? Chame como preferir. Após o ângulo do sol apontar metade da manhã, surgiram meninas de vestido azul, todas bem parecidas, caminhando, pulando, na areia, como se estivesse indo para algum lugar que não fosse ali. Passaram pela cabine, olharam, como deveria de ser, mas não desistiram de sua caminhada, seguiram pulando. Posicionando meio dia, o sol iluminava forte a praia. Toda aquela água calma, azul. Brilhante e calma. Compondo a cena, parecia atrasada, mas vinha com cabelos escuros e um rosto branco. Mais alta do que as outras meninas, uma mulher. Vestido azul, seguindo o figurino das suas conhecidas posteriores. Aquietando os passos, assustou-se quando percebeu aquela cabine jogada na areia. Correu em sua direção, parecia que uma entrega muito querida acabava de ser colocada na caixa postal. Fez força para abrir o casulo, três movimentos e foi suficiente para abrir de vez. Logo deparou com o Astronauta, apagado. Possivelmente morto.

Com as palmas da mão abertas para o sol à menina fechou os olhos, sincronizadamente movimentou seus lábios dizendo palavras delicadas. Confortou com a mão direita o peito do Astronauta, na reta do coração. Não precisou de muito e os olhos do companheiro abriram em um susto tão grande que até ficou com soluço, mas logo se acalmou, foi só perceber o par de olhos que estavam a te acalentar no presente momento. Com a mão posta em seu coração, logo largou e abriu um sorriso para cumprimentar. Tímido o Astronauta também sorriu, fazia tempo que pessoas não lhe sorriam. Sem tempos para pensar a menina ajudou o rapaz a sair dali, esticando cada músculo com lerdeza para não chocar a novidade. O silêncio já fazia mal. Então.

- Menina qual seu nome?

- Estou bem sim, como todos os dias deverias estar.

- Mas só perguntei pelo seu nome.

- Estar bem é colocar-se bem, promover-se para o bem, tranquilamente, estou bem.

Fez-se silêncio denotado por dois sorrisos plásticos, alinhados pela altura dos personagens. O Astronauta manteve-se em silêncio enquanto a menina veio em sua direção e lhe deu um abraço. Sentindo coração com coração, somente o silêncio faria sentido ali. Música aos ouvidos, na calma que precisa ter e na atenção que deve ter um abraço. Perdido no meio da cozinha, solto pelo espaço. Sendo abraço, a gratidão é a reciprocidade do afeto. Percebeu quando ainda seus olhos estavam abertos, a diferença do lugar onde estava. As ilhas em forma de esfera e a praia sem ondas. Parecia um rio, bem calmo. Calmaria espantava qualquer dúvida ou medo, manteve-se abraçando. Até surgir perto do seu ouvido, vogais.

- As janelas estão todas abertas e pode arejar o quanto quiser, não tenha medo do vento. Ele acalma. Componha-se em doses diárias de copos com líquidos valiosos, leves e transparentes. Água pura e cristalina. Perceberá adequação do organismo. Veja, são pegadas na areia, corre pra seguir comigo? Ou terás medo mais vezes? Acalme-se e proteja melhor o que é devido. O despercebido, deixa passar. Mas aquilo que ama, gruda consigo e grita o mais alto que puder. Com pensamentos leves. Homeopáticos e sinceros. Só isso, na medida do que você acha sobre o só! Quer seguir comigo? Pensar demais vai fazer seu cabelo cair antes dos trinta, te dou meia dica se seguir, se quiser ficar, sinta-se desimpedido, escolha tua, mas prometo encontrar muitos chocolates para o lado de lá. É só seguir as pegadas.

Falar desconstrói o mito. Calou-se em pró e não contra. Segurou na mão da menina e seguiu os passos na areia.




Continua...


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