Me mata tempo, pois estou te matando aos poucos, contando de cigarro para cigarro, de tragadas curtas, passando por longas, puxando o máximo de fumaça que o meu pulmão tolera. É dolorido viver, é chato viver, tenho uma antipatia muito grande por mim mesmo e nem sempre gosto de estar aqui, fazendo de conta que sei realmente qual é meu dever e como devo chegar aos locais que eu não conheço muito bem, eu faço de conta muito bem.
Estou aborrecido pela superficialidade anônima, não tão desconhecida, mas sem rosto. Sem teu gosto aperfeiçoado e muito menos inteligência o suficiente para tornar interessante qualquer que seja o assunto. Odeio estar com a cabeça vazia, tentando completar as lacunas desse texto com alguma palavra que nunca usei em meu vocabulário. O mau humor é um crime para minha capacidade de escrever bem.
Então caminho em frente, mesmo que o vento pareça forte demais para que eu consiga continuar. Drogo-me e assim consigo fugir do Leonardo e caprichadamente crio sorrisos intensos e me perco em algum assunto criado pelo THC. Gosto de voar, mas a porra do Senhor não me deu asas, preferiu me fazer sofredor desse mundo, humano do caralho e chato demais para conseguir me divertir com qualquer coisa que pareça muito boa para uns, mas para mim, totalmente ridícula e burra.
Não vejo mais desenhos pela manhã, eles não me motivam mais e muito menos me deixo enganar com as chatices do jornal na hora do almoço, não estou tão bem assim para me interessar em ver bombas caindo na cabeça de pessoas.
O que você lê aqui não é autêntico, não sei ser original, sou a cópia assumida de tudo aquilo que estão vendendo à prazo nos grandes magazines dos shoppings da periferia. Analiso tudo e vou copiando aos poucos, estudo a melhor maneira de não parecer tanto, mas o português que uso é o mesmo que o seu e não tem como escapar da notória mesmisse. É normal viver de cópia, já disse até um artista viado do século passado que "nada se cria e tudo se copia", mas foda-se, sou tão alienado quanto qualquer outro ser, que sabe muito bem distinguir a cor de um carro, mas mal sabe como explicar a disponibilidade dos ventos criados pelo grande oceano.
Sou confuso e absurdamente tranquilo, mesmo que às vezes não pareça tanto, mas escrever é conversar comigo mesmo e nada além disso. Não capricho propositalmente, simplesmente, realmente, simplesmente, estou conversando comigo mesmo.
Pela manhã, por falta de alguém útil
Prefiro me fantasiar de inútil
Faço o meu teatro sem máscaras
Para representar melhor
A minha total falta de capacidade
Não sou nada, não sou ninguem
sou o tédio e não gosto de correr
não entendo a política e como se faz
cozinhar parece mágica
e ainda me falta muito tempo
para encontrar mais uma vez
a minha paz
chamada
Danielle
Leonardo (entediado, encapetado, com náuseas)