15 de out. de 2013

Por um mundo menos viciado

Três infelizes carros encontraram-se violentamente no cruzamento, beijando bocas mal amadas, desfalecidas com atual desgraça televisionada. Do barulho de todos os presentes gritantes, desconfiados que o homicídio seria mais culposo se o barulho estalasse em ouvidos rústicos, acostumados com som médio de televisor nas tardes de domingo, assistindo jogo qualquer, fascinado ao descobrir as invenções mundanas no Fantástico. Três cansados do falatório, ali caídos, pouca culpa tinham, sem sorriso na capa do jornal, anunciados com os nomes misturados, desfalcados por obituário desalmado e artigo penal que julga mais as pulgas dos cachorros do que os nossos humanos. Eles só estavam cansados do barulho do mundo, mas mortos, ninguém poderia questionar.

Ando também tentando filtrar o som dos ruídos mundanos, talvez isso que tenha cansado ao extremo meu corpo naquela segunda-feira, antes do café manhã, que nem veio para dizer “bom dia”, pois cansou-se e voltou a deitar, mas o corpo molestado por dores fortes na nuca, fez o dia render dentro de hospital público, que capacitou perder horas do dia tentando assoprar as mesmas horas do dia. Questionando o sistema financeiro, de saúde e do meu próprio corpo, que ali, não agüentava mais os ruídos do mundo. Sobre as crises que vêem pra intervir a perfeição dos atos, dos momentos que deveriam ser serenos, mas interrompidos por corações mal amados, se espalham a cantar no momento onde o silêncio deveria imperar.

Meus amigos me ensinaram a reclamar menos se afastando de mim e me deixando só. Gritando as paredes dos vagões lotados que dão mais sentimentos de solidão do que essa caverna escura que dominaram os meus sonhos. Mas ao dizer que adorava reclamar, me ponho a questionar, ainda empurrando o tempo para ele passar, mesmo sabendo que isso acumulará diversos cabelos brancos e sei que estudiosos dizem que as responsabilidades fazem parte do processo e que esse é o grande objetivo das nossas vidas, ainda me vejo em vagões com menos capacidade e pessoas tentando se encaixar em espaços quase nulos, incapazes de respirar ar puro, caindo pelas arestas e eu ali, tentando ser eu mesmo, mas querendo flutuar pro meu mundo, que perdido, não sei mais como encontrar.

Os sonhos ficam complexos quando os vinte passam o cinco e assumo que estou com medo da vida, pela enésima vez, eu admito. Tenho percebido a sagacidade otária do humano em querer participar da vida de terceiros da maneira mais corrompida e não a mais edificante. Constrói ilusões e carregam em crachás designações que imperaram somente umbigos e bordados em panos de pratos sujos, fedendo a louça largada no quarto por meses. Minha mãe dizia para pendurar uma melancia no pescoço quando quisesse aparecer, mas ando vendo feiras de frutas inteiras desfilando seus colares coloridos nos arredores desse planeta, confabulando a nostalgia pragmática de narciso e seu belo mergulho sem volta, amando somente o brilho do seu reflexo e nada alem disso.


E ao perceber que no carro que havia se abastado menos com a colisão ainda havia um coração a bater, a se esconder nos barulhos de flashs e alardes de pessoas desconhecidas, desabando a dizer como é desonesta essa vida e que muitos tinham muito o que viver, os sensatos se calaram. Postaram suas forças a favorecer os que firmemente trabalhavam para remoção dos destroços, pois dali, sobrara vida para resgatar e humanizar vitorioso do duelo barulhento, nesse trágico acidente no cruzamento, espero tirar conclusões boas entre todos os lamentos, pois acredito haver cabimento até mesmo nos dias de chuva dessa Primavera, que insiste em não visitar o nosso jardim, já cansado de tanto chorar ou se arrepender por pequenas atitudes, daquelas decisões mal tomadas, precipitadas, intrometidas e irrevogáveis, que cá estou, para tentar acumular novos pensamentos para enfileirá-los amanhã. Em uma nova guia e pré-produção de bons dias para seguir e desfilar entre os sorrisos novos que quero dar, guiado pela leveza e de explicação que só cabe pra quem tiver bom coração e saber entender, que no vazio clichê de saber que a vida é curta para se arrepender, então siga, pois quando os cabelos realmente estiverem brancos, é legal saber o numero maior de rimas e a vida fará todo sentido. 



Eu acredito em teorias de conspiração.





Leo Arima.