Diga alô em voz alta quando ligar pela manhã, vai estar em um sono profundo e nem o mais ágil médico vai descobrir qual é a cura real para esse sono. Serei real para você, cansei desse teatro falso, acho que cansei de estar aqui e ser como você. Não posso duvidar de tantas coisas, mas costumo me perder em pensamentos estranhos. Sempre, quase sempre, pela madrugada que não tem fim. Os dias que começam e só terminam depois que os meus joelhos não conseguem segurar mais o meu corpo. Só mais um gole e prometo voltar para casa. Só mais um pouco disso. Deixa-me lotar o nariz com um pouco disso. Quero me perder lá em cima e não voltar mais. Quero pisar nas nuvens.
Até amanhecer eu não tenho nome, mudei de canal e não sou mais eu. Estranhei meu rosto quando não consegui dormir e desisti de qualquer conclusão momentânea. Deixa tudo acontecer da maneira que tem que acontecer. Fico comendo os dias e esqueço a data do aniversário do meu melhor amigo. Esse que já se foi ou nunca veio. Não sei, não conheço mais ninguém. Dei férias ao meu cérebro e ele esqueceu de voltar da lua. Envelheci e não cresci, mudei, mas continuo sempre igual. Minha cama nunca muda de posição e vejo o mundo caindo aos pedaços, perco a hora e perco tudo aquilo que não podia perder de jeito algum. Conheço-me o suficiente, mas continuo duvidando de muita coisa. Espero conseguir colher um pouco de tudo que estou conhecendo. Que seja válido de alguma coisa esse conhecimento estranho. Mas um gole gelado de Coca sempre é bom. Vendo a noite virar dia e não entender o porquê de vários entendimentos.
O que tiver que guardar, vai ficar guardado. Vou esquecer algumas coisas, não preciso adicionar ao meu mundo coisas que não me alegram. Não tenho mais a obrigação de sempre estar sorrindo, mas mesmo assim. Deixa-me sentir tristeza quando quiser. Deixa eu me alegrar com um pouco de chá e essa música lenta que nunca deveria parar de tocar.
Escrever usando a primeira pessoa do singular é como um vício, cigarro atrás de cigarro, gole atrás de gole, não entendo. Meu eu, meu teu, meu nosso e meu mais alguma coisa. Irrito-me em muitas vezes, acho que está tudo igual e que as idéias são sempre as mesmas. Não aprendi a gostar de tudo isso que escrevo. Não pertence a mim esse mundo que descrevo. Não sou daqui mesmo. Como se fosse uma idéia que aparece no momento em que movimento os meus dedos sobre o teclado. Vai indo e nem presto atenção na seqüência certa. Não acredito na possibilidade e vou testando um pouco de cada tecla. Acho que pode virar música, como se fosse um piano sem som. Como linguagem de surdo e mudo, vou conversando e opinando sobre as minhas próprias opiniões. Cada vez mais rápido, cada vez mais confuso, cada vez mais meu, cada vez mais um Leonardo que você nunca viu. Como se fosse uma nova pessoa que aparece na sua frente, estica a mão e diz um nome que não é dele. Repito palavras e discuto sobre um mesmo assunto. Auto-questionamento estranho, não vou conseguir responder as minhas próprias perguntas. Leio alguma coisa sobre o assunto, mas a internet não conhece aquilo que desejo descobrir. Eles não me conhecem e mal sabem o andar que moro. Não conhecem minha rua e não me viram crescer. Achariam banais os meus problemas e ririam na frente de todas as meninas bonitas do mundo. Vão me deixar com vergonha, vão me deixar vermelho, vão me embebedar. Dá-me um pouco disso que você está na boca, se me jogar para longe, prefiro mais ainda e degusto um pouco disso que faz tanto mal ao meu mundo que está cada vez mais estranho, mas uma hora eu caio na real.
Por enquanto estou de férias de todos vocês. Não quero contato, nem de terceiro e muito menos de primeiro grau. Esqueçam-me durante uma semana e não me liguem. Deixa-me sozinho um pouco. Vou ouvir uma música e tentar fazer algo bom de comer, mesmo sem fome, mesmo cansado. A campainha vai ser música. A porta está fechada e não quero festa na minha sala, a não ser que apareça uma princesa para dançar comigo. Ralando corpo no corpo, não vem dizendo seu nome. Só quero lembrardo seu sorriso e tudo aquilo que parecia estar ficando cada vez mais quente. E bate na minha porta bem cedo, quero aproveitar um dia inteiro ao seu lado. Não que seja amor, não que seja paixão, mas é à vontade. Vontade de ver o seu corpo requebrando, vontade ver seu corpo mexendo só para mim. Não conto para ninguém, fica segredo só nosso. Acho que meu sorriso pode entregar, mas não vou me preocupar a essa hora da manhã. Alguma câmera vai pegar e todo mundo vai ver no dia seguinte, e mesmo assim, não vou me importar. Tanto faz, explicações são chatas e eu falo sozinho mesmo. Não tenho ninguém para conversar nesse momento. O sol vai sair daqui a pouco e mais um dia vai começar. Não vou colocar nenhum roteiro para esquematizar os meus fatos diários e repito em todos os textos que sou uma pessoa repetitiva, sou e assumo.
É um ensaio fora do estúdio. Estou treinando no meu campo e dou quantas voltas quiser ao redor dessas faixas. Eu domino aqui por hoje, sou meu treinador e parceiro forte. Preciso correr mais rápido que você e preciso agüentar mais do que o maior campeão do mundo. Vou driblando com as vogais e jogo as consoantes para marcar os atacantes. Passado, pretérito e um futuro quase certo. Depende do que eu fizer amanhã. Depende de muita coisa hoje. Não busco comentários justos, não pergunto o que você pensa de mim, pois engano muito bem e você vai acompanhando a minha vida através de várias letras coladinhas, uma certinha atrás da outra, como se fosse uma festa de fontes estranhas. Nem tenta entender, não mesmo, é perda de tempo. Acho ainda que cada um de vocês tenha um pouco disso que aparece de madrugada para mim. Somos todos viciados em alguma coisa e freqüentamos um mesmo lugar por puro hábito. Somo iguais, somos todos parecidos e você é um pouco de mim também.
O que me trás até aqui é um fato desconhecido, é uma vontade obscura de dizer aquilo que tenho tanta vontade de dizer. Não tenho vergonha de assumir algumas coisas, até porque elas não são tão incomuns. Não sou homossexual, por favor, relaxem, não é disso que estou falando. Tenho medo e tenho idéias diferentes. Sou como você, mas uso roupas diferentes, não me preocupo com marcas e me contento com aquilo que se parcela a perder de vista. Apaixonado pelo simples, básico, útil e totalmente necessário. Arroz com feijão mesmo! Sabe? O luxo não foi feito para mim e me faz sorrir muito estar entre meus grandes amigos. Desenho do jeito que for melhor para mim, apoio no meu joelho e faço o céu parecer o oceano. Faço tudo do meu jeito e vou desenhar com muito capricho cada estrela que eu assistir nascer, quero-te sorrindo, só mais uma vez.
Vou esconder tudo isso aqui
Leonardo