Duas sombras adentraram como vilões a janela do quarto. Esbarraram em tudo. Um abajur foi ao chão sem se preocupar com ruídos. Barulho diferente para cada passo dado. Barulho para cada esbarrão, para cada objeto que ficava pelo caminho. Demarcando com migalhas o futuro local do crime. Percorrendo todos os cômodos procurando por alguém que ainda respirasse! Alguém que ainda criticasse, alguém pronto para falar mal da escolha Militar. Bate essa mão no peito e canta o hino sem errar. Ame sua bandeira! Apaga tudo de errado que acontece e abstrai! Joga de canto e faz tudo. Nasceu burro e vai morrer pior ainda.
Foram pelo corredor até o fim. Passaram por duas portas que estavam abertas. Foram direto e não encontraram ninguém. Os meninos saíram para comprar algo para jantar e as meninas se espalharam por outros cantos. Em punhos armas cromadas. Uma águia brilhante e treze tiros prontos. Cuspidos tirariam a vida de qualquer um.
Ídolo! Presidente da República! Qualquer porra!
Qualquer um cairia no chão e só acordaria, caso ainda tivesse chance de acordar! Seja lá onde for. Se não, cairia dolorido demais para falar mais alguma palavra e com mais um tiro morreria.
No final do corredor uma porta semi-aberta! Uma luz e movimentos! Um idiota! Com tanto barulho eu já teria mudado de canal. Passava a página! Mas não!
- Comunista de Merda! Comunista de Merda!
- Mato agora? Deixo pra depois?!
Depois da segunda interrogação o menino já andava como um caranguejo pelo chão. Caído, indo de um lado para o outro. Ridículo! Com medo! Respirando como um cão...
Foram pelo corredor até o fim. Passaram por duas portas que estavam abertas. Foram direto e não encontraram ninguém. Os meninos saíram para comprar algo para jantar e as meninas se espalharam por outros cantos. Em punhos armas cromadas. Uma águia brilhante e treze tiros prontos. Cuspidos tirariam a vida de qualquer um.
Ídolo! Presidente da República! Qualquer porra!
Qualquer um cairia no chão e só acordaria, caso ainda tivesse chance de acordar! Seja lá onde for. Se não, cairia dolorido demais para falar mais alguma palavra e com mais um tiro morreria.
No final do corredor uma porta semi-aberta! Uma luz e movimentos! Um idiota! Com tanto barulho eu já teria mudado de canal. Passava a página! Mas não!
- Comunista de Merda! Comunista de Merda!
- Mato agora? Deixo pra depois?!
Depois da segunda interrogação o menino já andava como um caranguejo pelo chão. Caído, indo de um lado para o outro. Ridículo! Com medo! Respirando como um cão...
...
Um disparo!
...
- Não gasta bala assim, seu idiota!
- Atiro no teto quantas vezes quiser... Pega esse maricas aí!
Na hora que o primeiro disparo foi parar no teto duas coisas aconteceram!
1 - O maricas acabara de marcar suas roupas íntimas!
2 – Ele pensou... “Estou vivo?”
...
Sim, sobreviveu!
Idiota!
- Essa eu não vou errar!
Com muita violência no seu olhar o nobre rapaz mirou com precisão seu alvo dessa vez e esse não era o teto! Sairia sangue dessa vez, mas nem pensou muito na sujeira que faria.
Puff!
...
- Eric, você está sonhando mais uma vez? Não consegue dormir e ficar quietinho nunca?! Meu Deus do Céu Cara!
Eric levanta suando frio! Bufando! Cansado! Mas era, realmente, somente, mais um sonho.
- São esses malditos remédios que estou tomando para essa maldita gripe! Você sabe disso!
- Tudo bem! Descanse então! Se cobre direito!
Não se cuidou e ficou doente! Vacilou! Tomou friagem, esqueceu o casaco e deixou vento gelado bater no peito. Não cobriu as orelhas antes de dormir. Mês de julho começando. Mês de frio. Festas Juninas só ano que vem. Quentão só ano que vem. Junho foi-se e só deixou o nariz escorrendo para quem se resfriou. Toma um chá quente e coloca um agasalho. Fica de molho por um dia. Antiinflamatórios. Antibióticos. Anti-bactericidas? Não sei! Mas caso necessário, durma de meia!
Fazia frio!
Estavam alguns dias fora de casa já. No Rio de Janeiro e em um clima estranho, mas já haviam articulado uma forma prática de voltar para perto de casa antes que estourasse uma bomba. Era perigoso, mas era necessário.
Depois do tumulto causado dia vinte seis, seus rostos já não brilhavam como antes. Pareciam reluzir entre outros jovens. Parecia funcionário andando de crachá pela rua. A Dona de Casa. O Chefe de Família. O Filho. A Filha. Safada. O Cansado. O Vagabundo e o Menino que Queria Mudar o Mundo.
Mudar o mundo!
Colocar o planeta para girar ao contrário!
Faz a noite e dorme de manhã. Faz de manhã e dorme depois do almoço, sem ninguém para reclamar da sua preguiça!
- Vamos! Já estamos atrasados!
- Foi você se maquiando! Foi você que atrasou todo processo! Eu esperei mais de meia hora! Lerda!
Se resumir em pensamentos que a zona Central de uma cidade deve ser a mais fácil de chegar, por estar Centralizada. Ligada a Zona Norte. Oeste. Leste e Sul! Qualquer zona chega ao Dentro! Todo centro liga para toda zona. Menos para a verdadeira Zona!
Bagunçada!
- Onde fica mesmo a rodoviária Margot?
- Região portuária! Centro do Rio de Janeiro, por quê?!
- Estamos longe ainda?
- Vamos descer aqui motorista!
...
E o taxi parou!
...
Antes de colocar o pé direito para fora do automóvel, Margot já percebera que dois homens fardados vinham pelo lado esquerdo, fazendo a esquina. Abaixou teu chapéu, vestiu uns óculos escuros e saiu do carro. Parecia Gringa. De vestido! Eric conduziu cada movimento no mesmo compasso que sua amiga. Seguiram invisíveis até adentrar a rodoviária.
Pareciam em um campo de guerra! Cercados de mongóis e mouros! Espalhados por todos os cantos. Rifles e escotilhas. Tochas e cavalos brancos. Sem armaduras os mais fortes e entocados os mais frágeis. Alguns de bigode. Barbas serradas.
Cinco metros se tornaram quarenta quilômetros!
Quando estamos em minoria, a maioria sempre dá as caras...
- Estão com seus documentos?!
Pior do que pedir para mãe assinar Prova de Matemática quando a nota está vermelha! Até mesmo pior do que o sentimento que tem o garoto, quando seus amigos contam para sala inteira qual a menina que ele está apaixonado! Nessa hora o rosto fica vermelho! Nessa hora o coração bate muito mais forte!
- Não senhor! Não estamos com os nossos documentos!
- Como não?!
Mentira! Sempre a primeira e mais burra forma de resolver uma situação quando se está com muito medo. Aplicar a verdade é simples, mas em determinados momentos, vale a pena arriscar. É tudo ou nada! Se joga de cara e vê no que dá! Pode dar vacilo, pode dar solução. Só depois da retórica que se conclui.
- Eu quero os documentos dos dois! AGORA!
Pior do que mentir é só afirmar ingenuamente que estava mentindo. É acumular pontos no jogo onde o bacana seria perder, mas...
- Está aqui...
Sempre saio muito mal em fotos 3x4. Minha cabeça parece maior. Minha orelha sempre parece torta e não gosto muito da luz branca me transformando em um fantasma. Mas só tem uma coisa pior nisso tudo.
- Margot... Eric...
...
Silêncio
...
- Margot... Eric...
Enquanto o mundo parecia parado ali, ônibus distribuíam corpos em movimento para diversas regiões do país. Pessoas vindo de São Paulo, pessoas voltando para Curitiba. Juiz de Fora. Região dos Lagos. Cabo Frio. Saquarema. Araruama e Rio das Ostras. Pessoas com frio! Pessoas que foram estudar e outras que só foram surfar. Cansados. Apreensivos. Presos nos horários de suas viagens
Impossível andar na rua e nunca encontrar pelo menos um rosto que já fora batido em outro retrato.
- Margot... Eric...
Na terceira repetição Eric já imaginava como seria andar igual caranguejo, como em seu sonho. Margot! Centrada! Calada! Ajustada nos movimentos que emitiam os lábios do fiscal! Talvez tenha sido realmente burrice partir ali, logo ali. Dessa forma, sem estudar, sem racionalizar o que poderia vir. O que aconteceria. O que poderia acontecer.
- Venham comigo...
Margot foi a primeira a sair correndo! Eric sem pensar foi na mesma direção! Fugiram!
- Guardas! Comunistas fugindo!
Pegou a bola antes do meio de campo e começou driblando! Um, passou outro. Deslizou a bola por debaixo das pernas do primeiro zagueiro. Limpou e cortou para o meio da grande área. Ajeitou com o pé esquerdo. Ainda tinha mais um zagueiro. Pronto para quebrar suas duas pernas de uma só vez. Não vai conseguir jogar os próximos jogos! Vai ficar no banco. Era só atacante e zagueiro, um contra um e depois... Caixa!
Uma porta e a Rodoviária passaria a se chamar Calçada.
Mas sabe quando tudo parecia azar segundos antes e com uma jogada tudo muda?!
Os dois conseguiram ultrapassar o limite da porta, adentraram a nova região. Mas quatro guardas já estavam dispostos a dominar a situação e por fim nessa perseguição cinematográfica.
Um Fusca parou
...
- Corre aqui para dentro do carro!
- Fernando?
...
Um sorriso vindo da menina e um respiro mais calmo do menino.
Acelerou e foi. Os quatro ficaram para trás. Reconheceram a rapaziada e quiseram levar para salas escuras. Saber do que já sabiam, mas gostavam de bater para saber de novo e até mesmo saber um pouco mais, só para ter mais certeza do que já, realmente, sabiam.
Foram até a Tijuca.
- Acho que vocês me farão companhia por um tempo
Cansados, descansaram...
Para acordar com idéias novas, é sempre muito bom colocar as usadas, antigas, de molho por no mínimo oito horas. No período noturno o nosso agente trabalha com mais eficácia, renovando os frutos criativos e preparando para novidades o dia que vier no decorrer da sequência.
Por isso, sempre é bom descansar
Continua.
Leonardo Fonseca