Ocioso e nostálgico abri a janela, refletindo e observando. Marcaram para outra semana a revolução que aconteceria hoje. Marcaram para outro dia, deixaram a preocupação e só depois do Carnaval que vão lembrar que possuem responsabilidades. Antes disso dormem em paz e passam despercebidos. Em janeiro tudo parece final de semana, mas é possível encontrar algumas lojas abertas. Continuando com meus olhos sobre o Mar Mediterrâneo, continuando sobre a zona sul que logo vira zona norte, muda de rosto, mas continua no mesmo endereço, sua maquiagem deixa um brilho, mas seus lábios não são mais os mesmos. Molhados, porém cansados, caídos e sem a relevância de antes. Abraços e sorrisos, amanhã e depois, agora e daqui um tempo. O mundo continua girando e mudando, com essas pernas pesadas, com essas dores no joelho, só cabe assistir pela TV e com música alta para desfilar no corredor que separa a sala de estar dos quartos ao fundo. Surfista de canais, apresentadores e ternos bem passados, cabelos penteados e mulheres esculturais. Pensar é o lucro que tem a pessoa que sabe que hora ou outra sua juventude vai passar. Surfando entre números pares e pulando os ímpares, na inquietude daquele que esqueceu como voar. Viajando sem sair do lugar. Da janela vejo acontecer, mas acumulei muitas faltas na caderneta escolar e pulei as aulas que me guiariam, escolhi achar demais, achei e no viver, vivo o diferente. Vivo a inconstância de um coração malvado. Vivo a inconstância daquele que deseja entender, mas enfraquece sua vista ler demais. Continua achando, como se houvesse um tesouro pirata a ser encontrado sobre o mesmo mar de gente que assiste calado. Quietude nula e razões contrárias. O sentido vem sem mapas e explicações lógicas de um PHD, desfibrilador mental e sinais de fumaça pela casa. Estou aqui e talvez saibam disso.
Mais uma nota mental para lembrar-se disso. Quero estar burro e pensar menos, colocar em pausa tudo aquilo que não preciso pensar no dia de hoje e essa vai ser a minha revolução. Um café bem passado, com água quente e três colheres saudáveis de pó escuro. Cafeína me acorda e leva um tempo para dormir se absorver depois do horário da novela. Contribua com seu corpo acordando sua mente quando o sol estiver brilhando. Gastar energia é fundamental para sentir menos essa pressão atmosférica. Inquieto, girando a cadeira e esperando um motivo para sorrir, uma ruga substitui seu jovem rosto e aquele no espelho é você, tem formas diferentes, a mesma altura do fim da adolescência, mas continua com o mesmo nome. Continua sendo aquele que já vibrou e já gritou! Que teve milhares de razões, mas esqueceu delas no desespero. Inquieto, pensante e hoje calado. Revoluções por segundo deixadas para o mês ímpar que vier primeiro, em janeiro pretendia descansar, mas não há descanso que deixe em paz. Não há hora de sono a mais que me deixe tranquilo. Corpo que pedia um momento mais calmo quer acelerar e já não cabe mais tanto líquido quente. Faz calor lá fora, é verão, mesmo que estranho, com chuvas torrenciais colaborando para a evolução da humanidade. Desastres naturais e atos que explicaram menos nas aulas de geografia pularam a parte feia e só me fizeram decorar as capitais e isso já era o suficiente. Planaltos e planícies, pouco amor e em regiões áridas, se chove menos. Faz calor lá fora e já não me satisfaz refrescar o corpo com água gelada, quero um pouco mais. Nesse deserto, nesse pólo errado. Meus ombros ardem de tanto sol, minhas pernas doem de tanto correr. Fracassei mais quatro vezes e não entendi o porquê. Talvez tenha que aprender essa língua que falam por aí e me achem mais inteligente. Indagar é o que cabe, o resto fica largo e preciso de um cinto para manter fixo, sem cair e mostrar meu íntimo, pessoal, só meu e tão meu que esqueci como expor quando necessário matar essa fraqueza.
Hoje quando abri a janela percebi que o ano mudou, percebi nesse jogo de sete erros onde as pulseiras foram trocadas de mão, são outras cores que enfeitam as vielas do bairro do leste. Na varanda aqui, o sol passa despercebido. Meio dia ilumina e logo vai para trás, refletindo nos vizinhos da outra ala. Da outra direção. Aqui ele passa tão rápido e logo o verão se vai. Vem outono e espero estar menos perdido. Espero encontrar a bula desse remédio e medicar-me como se deve. Sem alterar a dosagem, sem acelerar o processo. Falam-me para ter calma, mas a calma não quer me ter com ela. Danço tão mal que posso sujar seus sapatos novos. Ando tão triste que meu rosto não encontra mais a posição certa para te encontrar. Sinto vergonha e prefiro só perguntar o trivial. Arroz, feijão e alguma mistura. Algo que não pese depois e ao mesmo tempo sinta menos fome no decorrer do giro. Salada com pouco sal e a pressão arterial continua no ponto certo do tempero, swingado e sem valsas depois da meia noite. Meio dia preciso estar longe de casa e longe de tudo isso aqui. Vira-se e vai, deixa um sorriso no canto da boca e vai. Segue o caminho que escolheu e vai. Simplesmente vai. Do verbo que leva para outra direção e simplesmente, vai. O número continua o mesmo. O nome continua o mesmo. Mas não lembro mais a postura que deveria ter e erro novamente.
No verão do ano que vem meu amor vai ganhar outro nome, quando o barco estiver com menos furos e remar suavemente seja costume. Quero respirar com mais calma em um lugar bonito. Um banco de frente para o infinito verde e espécies de flores para serem adotadas. Risadas, filhos, filhas, continuidade e respeito. Crescer, aprender, ser, se possível! Se não der certo, faço despercebido mesmo. Passo calado como o sol que não brilha o dia inteiro na varanda. Encontro posições para adequar minha coluna e as dores passam, é só saber cuidar. A vida material é o mal concebido àquele que desejar estar em todos os lugares, mas nasceu sem asas, pesado e se cansa quando corre mais do que no dia anterior. Vou aprender a socorrer-me ao encontrar erros banais, simples, que não impossibilitam o ato de respirar. Continuo respirando até o próximo Carnaval, até a próxima data que marcar com outra cor no calendário. Fazer especial cada vez que puder ver o estranho e imenso planeta. Dormir depois do almoço e contar para quem quiser ouvir sobre todos os lugares onde passei. Calor, frio e energias. Estrelas caem do céu, mas sempre vão brilhar, no infinito de suas vidas. Um nome para cada brilho, para cada sentença que for justa, sem julgar, sem precisar pensar no assunto. Aprenderei abraçar sem antes conhecer as falhas, também erro! E ao perceber mais uma vez quanto não estou pronto, quanto ainda preciso ler, quanto ainda não li, quanto ainda descansei demais e me vi assim. No verão do ano que vem vou fazer tudo diferente.
Leonardo Fonseca