Hoje tem aluna nova na sala! Rolou boato no corredor antes do começo da aula, é amiga de não sei quem, prima de um garoto da sala do lado. Eles se mudaram para cidade tem pouco tempo. Deve ser mais uma daquelas que vem de São Paulo se achando por demais. Lá tem tanta coisa nova que aqui parece tudo velharia. Reclamam de tudo! Mas de tudo mesmo! Do nosso ar limpinho e até mesmo dos tons de verdes que estão espalhados por aí! Não sabe de nada! Aliás! Até acha que sabe, mas no fundo, nem sabe muita coisa não. Assistiu na TV, decorou da internet e acha que isso já o suficiente para ser interessante para um papinho besta. Tomara que ela se sente bem longe de mim, não quero ser obrigado a conhecer essa aberração. Deve ter cara de esponja, cheia de espinha, parecendo um maracujá velho. Gorda, fedida! Nem deve curtir muito tomar banho! Esponja só na cara mesmo, por que no banho ela pula essa parte. Gasta água a toa, observa e sente-a caindo e fugindo pelo ralo, mas por que não foi junto ao invés de vir parar aqui? Não bastava vir morar por perto, tinha mesmo que cair na minha sala? Provavelmente ela falta alto! A professora vai detestar e vai reprovar essa menina, quero só ver...
A porta se abre, não por inteiro, meio de leve, tímida
A porta desperta a curiosidade daqueles que esperam ansiosamente o artilheiro converter essa penalidade máxima...
Preparou
Correu
Bateu e...
Olhos castanhos claro, cabelo escuro. Alta! Nariz com a ponta fina e de leve um lápis emoldurando seu olhar. Linda! Campeã do concurso de beleza que acabará de ocorrer dentro do meu coração! Maravilhosa! Vencedora do grande prêmio da corrida pelo amor da minha vida!
Apontou para um lado, andou, apontou para o outro, cumprimentou as meninas, deu um sorriso para um garoto e veio se sentar atrás de mim. Colocou seu caderno novo sobre a mesa e a professora logo pediu para que todos dessem as boas vindas para forasteira. Não acredito mais em dragões e até acho que o mundo nunca vai acabar. Repito mil vezes essa vida só para ver por mais mil vezes a minha língua sendo mordida com tanta força. Repito por mais mil e duas vezes essa vida só para reparar no seu rosto pela primeira vez, como se sempre fosse à primeira vez. Sentado no banco da praça, de frente a igreja azul do centro. Ela não falaria comigo! Passaria reto. Muito provável que namore um daqueles trogloditas de academia, malham e falam só sobre comida sem gosto. Aqui no alto da minha altura ninguém me avista! Se precipita e logo avista aquele que está atrás. Passa reto por mim!
Não vou me envergonhar!
Enfileirei todos os meus lápis de cor sobre a carteira, mostrei meus mais preciosos bens e respondi todas as perguntas que a professora fazia para sala. Pensei em fazer um cartaz e esticar no quadro-negro...
“Ei menina! Me olha aqui!!”
Quase coloquei um retrovisor no meu estojo para perceber os seus movimentos. Faz uma cara muito gostosa quando sente graça da vida. Desencanei de todos os problemas e a crise logo passou. Paguei minhas contas, arrumei um emprego e estou acordando mais cedo na tentativa, que acho muito válida, de te ter mais perto do meu coração!
O Sinal tocou e é hora de caminhar até a minha casa. Chutando as pedras do caminho de terra percebi que me seguia. Sorte do destino, sorte do menino, como posso ter tanta sorte assim em um dia só? Mas como faria? Ela não vai me responder! Até vou andar mais rápido, não quero que ela perceba que tenho tanta vergonha de dizer duas letras e meu nome depois! Estava tremendo tanto que não controlei direito os meus passos e cai no chão, me esparramei tão feio, mas tão feio, que para ser pior só rasgando minha calça na direção das minhas nádegas e isso aconteceu!
Enquanto o mundo acabava e parava de girar na sua rotação correta
Enquanto tudo parecia tão chato e igual
Enquanto tudo parecia só desastre
Enquanto tudo parecia tão chato e igual
Enquanto tudo parecia só desastre
Deu dois passos mais rápidos e encostou em minha mão, levou até a sua nuca e perguntou se precisava de ajuda para viver essa vida tão cinza.
Perguntou se realmente achava certo o meu jeito de pensar. Fixado em um mural de idéias limitadas, percebi o quão é bom se achar errado quando se encontra um motivo novo para ver o certo.
Não correção, não há nada certo, não tem definição para o que se sente ali quando está perto.
Quando está por perto... prefiro nem ouvir!
Quando está por perto... gosto tanto de só sentir!
E é o mundo que vem girando e nem sempre explicando
Ei menina! Você vem sempre aqui?
Quando está por perto... gosto tanto de só sentir!
E é o mundo que vem girando e nem sempre explicando
Ei menina! Você vem sempre aqui?
Leonardo
pra você.