21 de fev. de 2012

Os Dilemas da Terra do Nunca

Quinze crianças correndo enfileiradas, batendo as portas e gritando as novas. Diziam “venham ver, venham ver, venham ver a gente crescer”. Estava posto na janela, logo corri para rua para avisar, pois viria a calhar, calar o impossível e dizer em voz alta “Não o façam, não o façam, esperem que ainda há tempo”. Mas de porta em porta foram batendo, favorecendo a idéia contraria, logo distanciaram-se tanto que minhas pernas falhas já me impediam de encontrar o mesmo tanto de velocidade. Seus olhos brilhavam como meus passados em cada presente de aniversário que desembrulhei e esparramei pelo tapete da sala, criei meus mundos e minhas historias, criei minhas lendas e voei até Marte quando me esgotava desse mundo. É tudo tão banal, é tudo tão igual, as marcas, os modelos, os jeitos e as maneiras copiadas um a um, zero a zero, jogo tem sempre que ter um ganhador e um perdedor, fatos inexplicáveis. Corri então para dentro de casa para encontrar meu microfone e amplificador, de carro os encontraria e aumentaria o volume no máximo, impossível seria ouvir só um pouco, debruçaria no poste que timbraria papeis em branco com a marca dizendo “Esqueça dessa idéia, por favor, esqueça, é tão cinza depois do carnaval, todo cinza que percorre e te faz pesar tanto, não entendo por que tem que ser assim, mas assim não o faça, eu que não percebi, agora estou aqui, olhando o mundo da janela, com as canelas cansadas, com a voz calma de tanto tédio e programas de televisão”. Crescer é realmente estranho. Crescer é a coisa mais estranha que já me aconteceu e do um foi para o dez e do dez já estou com mais de vinte e se parasse no cinco, tudo bem, mas escolheu o seis que está por vir e nem vem me dizer que são só números, pois a vida me cobra, a mochila fica mais pesada e os sonhos parecem como o final do carnaval. Sem cor, Sem dor, Sem nada. Segui sem manual de instrução e esqueci como se chora de saudade, esqueci como sente com o coração e esquece orgulho, ama a novidade e nem vergonha sinto mais, me ouve aqui, por favor me ouve aqui, desaprendi a voar de tanto me preocupar, com problemas que eram pequenos, mas nessas medidas insolúveis fico com tanto medo, que prefiro só remar e nem pensar em quase que nada.
Por tempos achei que eram apenas férias demoradas, mas elas caminharam sozinhas e foram tomando vida própria. Os dias ou foto-cópias reformuladas para enjoar menos, ou demasiadas mudanças nas tintas do corredor para mudar o clima levemente, para por fim, enjoar menos ainda. Aplausos para os bebês que nascem e que ainda passarão por tudo isso. Reclamando menos, pois há tempos entendi, mas mesmo ao entender, continuei batendo em silencio querendo explicar menos as coisas, cabendo em cada minuto de boca fechada o crescimento interno de constantes medidas fora do eixo. Falando só das mesmas coisas e esse não era o meu objetivo. Disse que seria diferente dessa moçada apressada, que remaria contra a maré e que nem ligaria para metade dos seus problemas, bailaria noites e dias até engessar meus dois pés e nenhuma cadeira pudesse me segurar nessa intensa vontade de voar cada vez mais longe. Quero seguir, quero partir, mas são parcelas atrasadas e cobranças vindas do ego, peço para calar-te, mas mal-educados cantam até para o seu sofrimento, por isso devo virar menos noites e beber menos dessa loucura mutua do mundo humano e tentar captar aquilo que os olhos enquadrarem, na medida do possível, registrar meus sonhos, mas definitivamente, nunca parar de sonhar.
“Crescer não dói”
Mas o peso acumula tantas outras coisas e essas a gente releva até onde dá, segue olhando os pontos fundamentais e absorvendo o necessário. O peso é só o peso Leonardo e mais nada. Mentira! O Peso não me deixa chorar em paz sozinho a saudade daquela que partiu sem dizer o que precisava dizer, estranho a cicatrização que mantém distante, mas muito lá atrás e quem disse que era isso que eu queria?  Frio e disfarçado, casacos de cor preta para escancarar menos as mágoas ou os dilemas, corro para desencanar e levar com calma, mas aqui dentro tudo e todos estão gritando tanto. Dizendo para tentar de outro jeito ou perguntando a cada momento se a formula é essa ou aquela. Preferia o mundo sem as derrotas dos adultos, sem os esquemas mentirosos para sacanear seus próprios amigos. Não gosto desse mundo que ninguém confia em ninguém. Que muitos se abraçam, mas poucos se amam. Torturante ver a mentira sendo tratada como verdade e espalhada de boca em boca e gritada por muitos ao mesmo tempo. Amor está bem longe disso que estão pregando, pois amor é incolor, é indolor e incapaz de fazer sofrer. Amor te derruba para o bem, para te fazer levantar e competir de igual com as novas chances que obtiver. Amor é capaz de construir muralhas e incapaz de estabelecer esse iceberg dentro de qualquer coração gelado, pois o amor é quente. Quente como o mar a noite, quente como abraço de mãe que sinto tanta saudade. O Amor é maior que qualquer nome Possível de se escrever em qualquer página de caderno, é maior que qualquer previsão do tempo ou noticia de jornal.
Mãe, quero crescer devagar,  diz para me cutucarem menos e levarem a sério as minhas idéias, para esquecerem de mim quando precisar respirar sozinho, gosto muito desse quarto e da calma que a solidão as vezes me dá, mas também amo o maior sorriso do mundo do coração mais confortável que meu Senhor poderia me entregar de presente para a eternidade de cada freqüência ou desejo humano, superando cada barreira ou possibilidade de enxergar a olho nu. O mundo está tão sujo, varro a casa e sempre encontro poeira pelos cantos, me esforço, mas ela continua lá, todo mundo percebe, mas estranho ninguém tirar ela de lá.
Não quero ser como você e muito menos igual a você, eu quero ser eu mesmo e fazer tudo que me der vontade. Na hora do meu samba, que nem é de raiz, mas compreendo ser de verdade, pois assim me disseram e se não for, transformo em peso e chamo de algum nome que inventar, o mundo é meu e quem manda nele sou eu.


Leonardo Fonseca