Eu já falei para não esfregar esse nariz assim em mim. Tira essa camisola do corredor que alguém pode chegar assustando. Começa logo, começa logo. Eu respiro fundo. Está sentindo? Calor, não é? Muito quente, quente por demais. Usa, bebe, continua usando. Sujeira? Depois a gente limpa! Porco? Imagina! É tudo ponto de vista. Tudo é ponto de vista. O ponto de vista é um ponto de vista. Cada qual enxerga como pode e como quer enxergar. Ninguém enxerga o que é de verdade, tudo um bando de medroso. Não assume postura de rei e continua fazendo o que tem que fazer e por favor, faça direito. Desce com a língua até o osso depois do pescoço. Morde meu ombro. Morde meu braço. Continua mordendo. É sentindo dor que sinto meu sangue pulsar e ele vira a esquina a quase a cem por hora bate com muita força. Arrebenta a frente do carro e acaba com a vida de todos os passageiros. Jogando para fora o que parecia ser vida, mas ali ninguém sabia aproveitar mesmo, nem me importo com os descompromissados. Faz como quer, mas se for inteligente, compra algumas instruções pelo canal de vendas da TV. Enquanto parcela sua compra eu enrolo mais um. Dixavo na palma da mão, sempre esfarela um pouco e suja tudo. Mas quem se importa?
Nem me importo com as bombas lá fora. Se o céu está verde, se o mar amarelou. Não me importo com isso agora. Só quero saber de dançar e te ver caindo comigo. Levanto depois de três dias, com o meu corpo mais cansado do que o teu. Com o meu corpo fedendo muito mais do que o seu. Cheiro de menina. Limpa, única, perfeita só para mim e um jogo de mil e quinhentos pecados acumulados em um coração chateado. Mas nem encana, já esqueci o que me deixou assim e continua fazendo. Já disse para não parar. Esse é o meu jeito, se não gosta de brincadeira, conheço umas dez pessoas que dariam muita risada. Nem me importo. Na real, me importo menos do que você pode imaginar. Só tenho medo de parecer anti-social demais, solitário, cansativo até. Parei de me importar quando parei de te levar a sério. Frases pré-montadas, mas relaxa. Não é hora para julgamentos aleatórios. Continua! Estava em transe, estava bem distante daqui. Ouvindo teus pulmões puxando com força oxigênio para dentro deles. Pulsando forte, fazendo barulho. Apertando a borda da cama. Silêncio.
Me desculpa, puxei com muita força. Essas marcas vão te fazer lembrar por uns dias, como tatuagens passageiras. Marcadas com um pouco de dor. Prazer, um pouco mais de dor e música baixa, ali tocando de leve. Soando bem aos ouvidos. Cantando palavras bonitas, sei te deixar feliz. Sei o que agrada também. É a mulher mais bonita do mundo. Pernas, braços, cintura. Sua camisa ali caída no canto, emoldurando a situação. Quando entrou e bateu a porta logo meu coração ficou diferente. Falou e cantou até o final do corredor. Soletrando desejo de uma forma que nunca tinha reparado. Que droga é essa que é você que não consigo largar? Que droga é essa que é você que não consigo tirar de perto de mim agora? Me desculpa de novo, falei demais. Quero prestar mais atenção. Sentir. Calado eu sinto melhor, sigo o movimento de olhos fechados, tateando meu tecido nervoso. Não chovia, mas senti um raio passando energia por minha coluna cervical, fiquei arrepiado, como uma criança de dois anos, não consegui pronunciar nenhuma palavra por inteiro. Sílabas ficavam pela metade e não se completavam ao fim o contexto.
Só de sacanagem, para de me olhar assim! Está toda a dizer que pode mais, mas nem parou para calcular. Faz plano depois, vive o momento que o logo passa rápido demais para esperar o próximo vagão. É um tempo indeterminado pelo dono da regra das coisas que tenho por perto. Ele vacila e me esquece por um tempo. Passa longe e não grita meu nome, fico aqui sozinho. Cantando como posso, fazendo certas coisas que parecem legais vistas de longe. Mas com você aqui, percebo que o físico é muito mais agradável que a distância. Tocar-te com saudade é sentir como se fosse novidade. Uma volta nova, um cheiro novo.
Um recado de bom dia jogado em cima da mesa, foi-se e nem fez barulho. Foi-se e nem preparou café. Não esperou amanhecer, cretina. Tudo bem! Tudo bem dessa vez. Encantou enquanto pode. Hoje vou pensar sobre outras coisas e focar algo interessante. Ou talvez não. Talvez durma, relaxe, talvez!
E essa música que começa? De onde ela vem?
Alguém escuta ou estou sozinho mesmo?
Levantei!
Não te encontrei e a porta bateu
Foi forte o barulho, mas não devia estar com raiva
É pressa, é vula!
Um recado vermelho no espelho
Não pude esperar, logo parti
Mas espero em breve te encontrar
E resolver aquilo que ainda não fiz
Se não se encanar
Volto para te amar
Até quando der
De olhos fechados eu tenho o mundo que eu quiser.
L F.