20 de jun. de 2014

Peter e o Tempo

A perseverança destoa-se nula ao entardecer, pois encabulados pensamentos tímidos permanecem ancorados em suas crostas, aguardando o grito mais agudo ou semelhanças medrosas que permitiriam desabrochar na primavera tardia, mas como toda sequência de tempo da vida, essa logo chegará. O cinza ecoa e ao reverberar nas paredes desse quarto me fazem pensar. Associar verões que foram-se e invernos que gelaram as canelas. Vive-se o tempo, critica-o, ama-o se lhe é conveniente e por hora bate saudade no fundo do coração, enaltecendo flashbacks mentais momentâneos, dos gritos nos vales, dos dias perfeitos, das danças no quarto grudados na meia noite, nossos rostos colados, sorrindo no giro, girando a vida.

Pois é, a vida é um sopro.

Na oportunidade mínima que tive de compreender as teorias dos giros, parei de reclamar ou de pedir que logo viesse os tais dias finais das semanas para que pudesse descansar e a sensação agregou ao meu peito como tatuagem desbotada o sossego do desamarrar dos tênis, de tirar as meias e esticar as pernas no sofá. Assim guiando sem pressa de alcançar velocidades inatingíveis reparei melhor o infinito das estrelas e dei valor ao erro, nesse respirado, controlado e contribuindo com sorriso, para amargar menos os chás diários de nossas histórias pessoais.

Logo as folhas caem e vou recuperar minhas bagagens, contar as camisas e separar por cores, assim contribuirei com organização as  novidades da estação. Estagnarei menos, pois esse verbete apagarei do vocabulário que é já escasso. No breve silêncio encarnarei as verdades necessárias e se assim for, dormirei até mais tarde e renderei só depois das seis, na velocidade da camomila e cheio de manias que criarei e se preciso, ou como for, me atrasarei por ter colocado o despertador debaixo do meu travesseiro. Dormi sobre as horas e nelas enquadrei sonhos profundos, mas que me levam sempre adiante, como pipas sobre o céu das férias de julho.

O mês brinca de acabar do jeito dele, avisa só os atentos nas folhinhas e ao perceber só depois de tempos que minhas botas estavam cobertas de barro, parei e desejei sabores doces para enaltecer esse novo canto, hospedado na sobriedade vagarosa e na loucura permitida, pois estico os dias e elaboro a nova forma de contar segundos, sem ansiedade ou dores no estomago.

O tempo permanece continuo.
...
Se tudo for, não sobra espaço pra saudade.



Leo Fonseca.