Bati com força na porta, duas vezes e fiquei lá esperando alguém aparecer, mas ninguém apareceu no portão. Minha mãe havia me deixado ali para que brincássemos durante a tarde. Era mês de maio, mês normal sem tantas comemorações atípicas que e deveria durante a tarde abastecer com comida as nossas dispensas. Mas ninguém veio abrir o portão. Procurei um lugar para sentar e sentei, ali mesmo e fiquei esperando mais meia hora, quarenta e cinco minutos, coisa assim, mas ninguém realmente apareceu. Para onde será que ele foi? E na primeira indagada senti um frio batendo na minha canela descoberta, logo fazendo o sol ganhar duas orelhas rosadas. Um tom que não me agradou, não caiu bem com o amarelo, mas quem sou eu nesse momento para questionar? O mundo parou ali sentado e pesava demais pensar para onde deveria ir. Como faria voltar o que não aconteceu e fazê-lo acontecer? Sei que deveria ter ligado, mas não me preocupei. Achei que já estava certa a minha visita e que realmente iríamos passar a tarde brincando, mas não. Interrompeu a ligação ou caiu? Quem estava falando mesmo ali ao telefone? Passaram dois homens com pressa, gritando pelo trem!
- Olha o Trem! Espera, preciso ir nesse vagão!
No terceiro encontrei a lua a dois palmos dos meus pés, mesmo com a minha pouca altura a lua seria decorada com a sujeira do meu tênis. Vou fazer um coração e deixar seu nome por lá também. Um recado que só você vai entender, de uma língua que só nós dois falamos. Na segunda pedra à esquerda. Quando voltar para Terra estarei te esperando no mesmo lugar onde estou passando a tarde nesse exato momento. Esqueceram de mim, ou esqueci-me de esquecer e ainda não encontrei sentado o caminho de casa. Se declarar meu amor, vai se assustar. Pega as suas coisas e vai embora, é a melhor coisa que pode fazer nesse momento. Não me liga mais, não me mande mais mensagens. Faz de conta que era assim, olhe bem! Olhe bem com os seus dois olhos ao mesmo tempo e perceba. O mundo é um instante e partimos das ocasiões corriqueiras, somando sentimentos, tudo ganha um sentido diferente.
- Quem é você?
Não sei! Fiquei sentado por aqui, realmente! Não sai por esses tempos, ganhei duas raízes novas, estou com terra até o joelho. Saio para dançar, mas ainda é como se estivesse dentro de um vaso, espaço curto de tempo que me impede de gostar muito e perceber infinitamente os momentos da minha vida. É tudo tão rápido. Nesse presente que na porcentagem sempre prevalece para o lado da tristeza. Mas mesmo assim canto enquanto ando, observo e danço. Toco bateria no busão, daqui até o trabalho. Caio no palco quando canso da mesmice e faço tudo que era igual parecer diferente. Mirei e percorri, fiz um sorriso do tamanho de um barco e naveguei por todos os mares possíveis. Teve gente que passou por mim, viu ali sentado um menino e não parou para perguntar sobre sua mãe. E disseram que seu amigo também nunca mais apareceu pela rua, talvez tua família partiu para outro canto do planeta e nem me passou um contato. Resolver problemas nem sempre é algo que agrade ou divirta, mas durante um tempo resolve, tudo vai para o lugar e as preocupações vão para dentro do armário.
Como concluir?
Números são exatos demais para explicar a vida, acho muito chato fazer conta. Gosto de sentir e nem penso na quantidade que saiu dali, se tem um peso, ou sei lá, não sei! Não somei nada para ter como resultado o que estou vivendo agora e pelo balanço, parece que está tudo equilibrado. O positivo bate com o negativo. Sem contas à pagar ou duplicatas à receber. Na metade do caminho achei um jeito de ganhar dinheiro. Tendo paciência e persistência. Bebo em grandes quantidades aos finais de semana e volto à seriedade com dor de cabeça na segunda. Cumpro e mantenho a média e assim, levanto, caminho pela direita, esquivando o sol para não suar ao meio dia. Vejo-te daqui a pouco, preciso descansar e continuar.
Vou continuar.
E nem vem apostar
Por que eu ganho!
Leo Fonseca