19 de mai. de 2016

Calefação temporal



Pode parecer desilusão o pesar dos dedos e essa lerdeza para encontrar as mesmas palavras que já foram ditas, mas é só o hábito que foi deixado de lado mais uma vez. Irmão de todos os que vão sendo anotados, destrinchados e mal-acostumados com o virar intenso das horas. E alguns dirão que estórias se repetirão, canções ganharão diferentes conotações e o riso solto virá com a cautela do calçar dos sapatos polidos. Mas se assim for, desejo desistir por aqui e não acumular novas manias diante desse corpo que parece concluir diferente os trajetos dos novos pensamentos. Pois, se realmente assim for, parece-me entediante a guinada das novas primaveras colocadas à frente dessa caminhada dos dias. 

E que canto caído seria esse capaz de expressar as mesmas ideias sem me fazer querer colocar a cabeça para baixo preso no cabresto das obrigações e dilemas sórdidos das obrigações invisíveis?
São muitas as cartas impressas e com códigos de barra que chegam aos lotes, ou as ligações que pouco se importam com o pulsar do meu coração e o destino do cansaço dos meus olhos. É confuso demais a vida adulta e por vezes me sinto assustado. E como as diversas vezes que assim foi, minhas pernas travam e um novo bloqueio vêm à tona. Lembro-me dos sonhos antigos, quando cair era um problema e as cadeiras serviam mais como apoio do que despejo literal do meu cansaço físico. Reerguer, levantar e sacodir mais uma vez. 

Me assisti diante desse monitor difundindo luz sobre o meu rosto enquanto escolho palavras e converso sozinho sobre as polegadas da semana. Poderia contar sobre a estrada, desafios e a mentalidade que parece ganhar maturidade, mas só consigo lembrar da ênfase do inimigo oculto criado em silêncio. Do cabresto incolor colocado por mim mesmo, que me faz capaz de enxergar somente o próximo passo e esse é cauteloso demais, pois adultos são assim. Pensam para escrever, para falar, para controlar os números que giram e não servem de nada. 

Exatidão é nula e contas não fazem sorrir. Há sementes que caem e florescem novos sorrisos por sua própria essência. Inocência me guia até a porta da tua casa sem questionamento durante a busca inexplicável do destino final. Viver sem fazer contas para tudo é viver feliz. Mudar a matemática e criar um novo consenso apostando fichas em novidades incalculáveis. 

E poderia terminar com uma bela conclusão, mas não pude encontra-la durante esse tempo aqui sentado. É necessário mais prática e exercícios contínuos. Os dedos se aquecem e a sincronia das notas voltam a caminhar num mesmo soar. Aposto de olhos fechados que se assim permitir, pode despistar o falecimento precoce da poesia própria do ser, acostumando-se sem mudar e mudando sem deixar de ser. 

Para o tempo passar sem deixar de anotar e viver sem deixar que tudo se torne um grande buraco no espaço destinado aos nossos corpos. Fazer valer, mas com toda calma do mundo.



Mao Tse