Plantou, colheu, empacotou e levou de caminhão até a cidade. Enquanto todos dormiam, você gritava mais alto que o Carnaval, cantava e fazia sua maçã valer notas e moedas. O peso das coisas faz parecer maior, o peso das coisas faz parecer diferente o que nem é tão assim. Ganhou um saco de moeda e de caminhão voltou para casa. Tomou um banho, colocou roupas limpas e foi até o supermercado, buscar maçãs lacradas, presas em um plástico que faz parecer nova sempre. Comprou mais meia dúzia de ovos, encaixotados, enfileirados e um quebrado! Só viu na hora de guarda na geladeira - A vida não é um taxi que cobra cada passo dado - Estranho ter e não ser, estranho ter. Estranhei quando me vi e não encontrei nada, sou nada? Passou pela vitrine e preferiu levar o brinquedo com mais funções e certificados internacionais. É coisa gringa! É coisa fina! Coisa de outro mundo! Dentro do aquário só consigo ver peixes coloridos, sem competir entre si, todos são lindos e perfeitos em sua aparência. Só o Beta precisa viver sozinho, não se socializa com muita facilidade, aí precisa ficar separado da galera. Aos sábados dorme e aos domingos se esconde. Desliga o celular e não responde nenhuma mensagem. Sua água tem mais oxigênio que a minha, seu hidrogênio é especial e também diferente do meu. Nem tudo sempre é justo, mas a justiça foi criada pelo homem que não tem educação. Somos todos Reis e essa é a missão. Rei da Maçã, Rei do Açúcar, dessa e daquela região. Importantes de uma mesma forma.
Era tanta ressaca que tive vergonha por muito tempo, dormi demais e percebi que o Carnaval já havia passado. Defendendo demais, sem ataques, levei um gol e faltava muito pouco. Ficou empatado e dois filmes completaram a falta do que fazer. Ainda não satisfeito, engordei tudo que podia engordar, odiando a réplica de ser humano que carreguei dentro do meu corpo por todo esse tempo. Carlos foi um bom rapaz até conhecer o seu grande amor, que o fez desistir de completar as lacunas das frases seguintes do seu discurso, sempre tão correto, sempre tão discreto, sempre tão disposto. Carlos se entregou e fez ressaca ser rotina, não aguentou mais do mesmo e ficou calmo enquanto pôde. O nome da mulher não mudou, mas nem nos olhos se olhavam. Cansou seu corpo para ter sono, pensou menos para não sofrer e a vida foi passando. A cor da sua barba, a cor do seu cabelo, estava tão cansado que resolveu dormir um pouco mais cedo. Como um sapato gasto, foi escondido debaixo da terra, palmos abaixo. Flores e uma vela para queimar suas lembranças e fazer de conta que ali se vai uma história: Um homem que realmente nunca existiu, foi e ninguém ficou sabendo.
Não há diferença no verdadeiro gosto do leite, não há. Respiro o mesmo oxigênio que faz bombar entre as minhas artérias o sangue que sobe até meu cérebro e me faz pensar. Sou pensante e com sangue fluindo, só percebo como é bom pensar. Não há diferença entre a cor que você vê e o sabor que eu sinto. Não há abraço que não seja gostoso e beijo que não seja apaixonante. Danço a tua música enquanto te vejo cantar, espero e te puxo para junto sentir a vida passar. Faz tudo parte de um só show onde todos nós dependemos uns dos outros para continuar. Até o fim! Música sem dança não é música, dança sem música, é loucura na certa. Amarre o tênis antes de sair de casa, não se arrisque a tropeçar, não pule os detalhes e perceba a eterna dependência que faz o simples ser importante e extremamente fundamental.
Pense nisso.
Leonardo Fonseca