Esquece meu nome, esquece de tudo, esquece daquilo, esquece um pouco. Dança olhando para o céu, olha para mim e me deixa assim. Vou caindo e vou sentindo o chão amolecendo, vou vivendo, vou vendo, vou crendo e quase tendo. Tenho o que preciso e empresto quando precisam. Vou doando o que posso doar, vou doando para te ajudar, vou doando para amar um pouco quando puder amar. Vou amando, vou voando para o lado de lá, vou para o norte e rezo para te encontrar pelo sul. Vou voando e observando, vou vendo o mundo girar, vou vendo criança correr e crescer, no mundo que não para, no mundo que só gira. Gira sem fim e sem nexo, sem entendimento, sem entender, sem ver muita coisa e sem estudar. Estudando vou ficando burro, vou aprendo o quadrado e esqueço todas as outras formas geométricas. Estou dentro de um molde gigantesco e não consigo me libertar, não consigo ter as minhas idéias e inovar. Estou preso no mundo que não é meu, no mundo sem escolha, mas vou me esquivando sempre que acho um espaço. Vou voando pelo espaço só para esticar as minhas asas. No meu mundo eu sou Rei, sou Rei desse meu estranho mundo, sou dono das flores e desenho o sol na posição que me for mais agradável.
Me acalmo encostando a cabeça em meu travesseiro, desligo-me e tento não pensar. Pensando vou lembrando e assim por vezes, esqueço de dormir e vejo o dia amanhecer contra a minha vontade. Relógio gira muito rápido quando o sono está perdido. Os ponteiros ficam ligeiros e vão correndo, rindo da minha cara, rindo da minha pessoa, rindo de tudo que está acontecendo tão rápido e os sorrisos vão ficando para trás, dentro de cada pensamento que não deveria ter na hora de dormir. Deveria existir um botão de desligamento do mundo. Escolheria canais especiais para os meus sonhos matinais e acordaria disposto a conquistar aquela que não sai da minha cabeça. Mas se um dia eu te ter, vou aumentar todas as chances de te perder. Não ter mais paixão e talvez me chame para ser teu amigo ou coisa parecida. Companheiro de bebidas, diálogos premeditados e tudo aquilo que parece decorado. Onde vai? Onde foi? O que faz? Faz nada, não faça nada sem mim. Te amar pode ser me odiar, estar confuso, pode ser deixar de gostar, me esquecer e me deixar escrito em algum caderno. No fundo da gaveta, cheio de bilhetes e boletins com notas baixas, não aprendi direito todas as matérias que deveria ter decorado, mas tenho tanta coisa acumulada para pensar, que mais uma vez eu perco o sono.
Pensarei menos e ficarei burro aos poucos, superficial e repetitivo. Coisa que já sou, mas vou colocando em prática com mais precisão, vou te forrar de pensamentos chatos e vai estar enjoada ao terceiro dia. Vai ver que não sou aquele que realmente pode te alegrar durante muito tempo, mas tudo bem! Vou encontrar algo mais interessante para pensar, vou encontrar alguém interessante para conversar uma tarde inteira, uma vida inteira, uma quantidade de tempo indeterminado, tanto faz. Dentro de cada confusão que faço aqui, meu telefone não toca e acho que já esqueceu mais uma vez. Está para nascer um novo dia, está para crescer um pouco mais, está para ser lembrado quando precisar. Rápidos são os pensamentos dançantes que ficam empilhados no meu armário. Estranhos são os monstros que rodearam a minha cama ontem a noite, não me deixaram dormir, conversamos até a minha boca desejar estar fechada. Fechada estava, estava fechada, calada e sem muita coisa boa para dizer, mas sei dizer um monte de besteira bem falada. Te faço admirar aquilo que não tem nexo e a música parece facilitar.
Me ligue quando acordar e venha me visitar, preparo café e compro algo delicioso na padaria, enchendo de sabores e conquistando seu paladar, coloco um filme e juntos assistimos o dia acabar. Quando acontecer um novo, de novo, colocaremos reprises para o público mais novo. Novamente sem novidade, é só mais um pouco de mim e essa estranha falta de criatividade.
Leonardo