Objetivo: Não usar de forma alguma “eu, seu, meu, teu, você, ele, ela, alguém, quando, onde” em todos os textos seguintes. Os textos vão se referir a assuntos diversos, passados, novos e possíveis redundâncias. Quero ver se realmente consigo anular algumas palavras e ainda assim manter uma possível concordância em tudo que escrevo.
Tema: Vivência na pós – adolescência
Plano seqüencial, com som de baquetas ao fundo. Assim cresceu uma pessoa, que hoje veste roupas adultas e se despede diariamente da bermuda. Pendurada em um cabide triste. Carrega nos fones lembranças dos amores que passaram,das brigas e tudo que parecia ser tão errado. Jovens não percebem suas burradas e tudo aquilo que os anula da normalidade. Vontade sair de casa, ter um carro e freqüentar os lugares proibidos para menores. Percebe que a vida até ali foi rápida e tem quase certeza que a outra metade do século de vida, ou quase isso, vai passar tão rápido quanto. O quarto é pequeno, não cabe mais uma vida, segredos e dimensões que só quem vive percebe.
Evolui e esquece como era o sorriso que já amou, as roupas vão mudando também. Normal se encantar com nossas lojas e sentir sufocado no momento em que aperta a gravata da primeira entrevista. Passa tanto perfume que não agüenta mais respirar. Dói à cabeça ser adulto, taxas e juros acumulados e a bolsa que não para de cair. Tudo que caía antes era tão fácil de levantar, abaixava, erguia o braço e estava tudo bem. Mal do mundo era menor do que tudo que passa na TV. Essa caixa quadrada assusta cada vez mais, pessoas que não descansam. Tempestades que alagam olhos durante a enxurrada. Mas deixarei de ser triste e vou erguer minha alma, procurar um novo emprego, perder é tão normal daqui pra frente. Muda e muda, não avisa mais ninguém, esse que vai ter um nome condecorado, seja com um quadro na parede do restaurante de comida rápida ou no posto de presidente deste país. Pode não ser uma pessoa de nome, mas vai pagar todos os impostos, essa aposentadoria da vida é tão atraente.
Bonitos serão os dias que terminam rapidamente, não agüento trabalhar demais, o cérebro trava e perco o caminho de casa. Durmo demais e acordo longe do ponto que devo parar e vou indo, não encontro mais nada e não sei o nome da pessoa que está sentada do lado esquerdo, muito menos do direito, desconhecidos. Tão conhecidos, vejo rostos todos os dias e mesmo assim, é passado que não conhecerei. Cada dia um novo. Penteados diferentes e tom de voz que dói o ouvido. Acorda e me deixa descer no local correto da minha parada. Mesmo sendo mau aluno, crio rituais de gente grande, faço barba e pareço gente nas reuniões com pessoas que estão um pouco menos ricas do que a minha conta bancária. Está no zero mais uma vez, supero no mês que vem, cubro a dívida e torno tudo normal. Dever é complicado, dívidas não são piadas tão boas de contar para os amigos. Sentem dó ao ver moeda contada atrás de moeda.
Crescerei ou cresci, não percebi tanto. Não dói. As pernas crescem, os ossos aumentam e tudo continua do mesmo jeito. Rosto que fica quadrado e começa a ser coberto por uma cor acinzentada. Ficamos velhos do dia para noite. Estar longe da Terra do Nunca e não ser Peter Pan é complexo. Funciona nos gibis, funciona nos filmes, mas comigo não. O mundo pede, a vida pede, todos pedem e parece uma torcida incansável. Mostre os lucros e direi quem és. Esse carro é do ano? Essa roupa já está ultrapassada demais, abaixa esse cinto, por favor?
Longe da cabeça tudo vai parecer mais bonito. Acende mais um, compra mais um pouco e mistura. Essa veio de um lugar louco. Loucos serão os adolescentes que se foram. Adeptos de tudo aquilo que assusta criança que se atreve a assistir o jornal das oito. Não assista! Pelo amor do nosso Deus! Se ouvirem o que faço, por Deus, vão sentir nojo de mim e não vão falar comigo olhando no olho. Está vermelho, é uma alergia e nada, além disso, e não durmo por que não tenho sono. Imagina! Não é nada disso que está pensando! As festas que ninguém dorme são normais, impossível estar com alguma pessoa agarrada na parede. Meninas se beijam, todos amam! É assustador, sei bem! Música alta faz mal para os ouvidos, mas dança. Chegue suado em casa. Chegue drogado em casa, entre direto no banheiro e tome banho. A balada foi boa, mas precisa parecer normal no jantar familiar, se a sua tia souber...
Os pais foram assim, tios, primos mais velhos e qualquer ser que está a sua volta. Nem todos tiveram a mesma coragem de saborear melhor a vida e se alojaram em suas tristezas. Vão levar o país para frente. Pagarão um colégio para os filhos e vão esperar notas boas. Enquanto dancei e vi o mundo louco que gira na madrugada. Machuquei o joelho, doeu, sofri, mas virou história. Brigas, derrotas e meninas que não quiseram me amar. Foram-se! Os ídolos não se pareciam comigo. Não sai na capa da revista de capa cor de rosa e muito menos desejei.
Fiz amigos diferentes e entrei em aventuras do submundo. Fiz e faria de novo, sem dor nas costas. Disposto a andar tudo aquilo de novo. Faria-me e copiaria O novamente é atraente também. Mas dói e sabe o que pode fazer e ainda obter lucros. Todas as paixões com as garotas mais lindas da sala. As discussões por um amanhã melhor. Todos já tentaram ou pensaram em mudar o mundo. Implantar o bem na vida de todo mundo. Revoluções pessoais e cortes de cabelos dos atores. Músicos estampados nas paredes do quarto. Adoradores dos nomes complexos dos filmes americanos. Brinquedos que perderam o sentido e foram fazer a alegria daquele que ainda vê tudo mais colorido. A saturação está mais baixa agora, não entendo. Jogo o contraste bem alto para parecer uma foto alegre. Crescer não é triste, mas estar perto de uma seriedade é complicado. O tempo vai indo, ninguém segura. O dia acaba e já é hora de esperar pelo seguinte. Está por vir, mas mesmo assim as camisas precisam já estar passadas. Comida pronta e tudo já pensado.
Normal é o tédio a partir de agora, não se culpe e não reclame. Faz parte do trânsito. Faz parte do domingo, da segunda e da terça também. Roteiros diários de uma mesmice. Fazer o que? Se fosse escolha, pularia uns dez capítulos, mas como é obrigação, os faço do desse jeito. Baterista de jazz que sola no meio da música e chama atenção para suas mãos. Coloco o cérebro acima e penso de um jeito diferente do normal. Penso do jeito que quiser nesse momento. Estar longe, ser de longe, enfim... Não sei!
Preciso escolher pelo fazer ou deixar de fazer. Arrepender do dia que dormi demais e achar ruim por não ter dormido. Estar sempre em dúvida. As cores são bonitas, mas nenhuma agrada tanto. Olha no espelho e vê barriga. Querer ser criança e afinar o rosto seria uma opção boa para aqueles que sempre desejam parecer mais novos. Impossível! São rugas, marcas, expressões fixas. Esse é o formato adulto do ser que foi criado pelos pais. Talvez tenham imaginado um ator ou coisa parecida. Virou cidadão. Médico, doutor e advogado. Dentista, instrutor e atleta. Cantor das noites perdidas da zona oeste da cidade. Perdedor de amores e vencedor das cantadas sem nexo. Amor que amou e se foi. Casamentos que acontecem nos dias mais claros. Se chover? Vai dar azar com certeza. Perderá a cabeça e ganhará peso. Querer o que não queria e deixar o que não deixaria. Subir, descer, crescer, ser, estar e conseguir.
Capaz será
Custa tentar
Custará e mesmo assim não adiantará
Dias acabarão
Terão sempre outros para continuar
Segue a seqüência
Conhecerá e esquecerá
Paixão se foi
E voltará
O coração uma hora amolece
Vira de paz
Vira de uma nova pessoa
Por quem
Apaixonar-se-á
Tristeza passa
Felicidade também
Não chore
Não reclame
Amanhã...
Só a Deus pertence
Leonardo Tatsuo Arima da Fonseca