25 de set. de 2010

- estranha crise pessoal

Avaliações dizem que os tubos permanecem em seus devidos lugares, problemas pequenos entre os vasos, hemoglobina tirou férias e deve ingerir menos açúcar. Pensando melhor e avaliando mais uma vez. Prescrevo que o senhor se ajeite por aqui. Deite e estique bem seu corpo. Um coma seria a melhor solução. Pois ele vai parar, se já não parou. Consegue ouvir? Entre os fracos foi o primeiro a levantar a mão e acusar os seus colegas e agora finge de morto. Besta! Grande de um idiota esse menino. Repousou muito pouco esse seu jeito e agora já cresceu.

Mas o que acontece com aquele que escreve. Com a ponta dos meus dedos, o que aconteceu. Pode me dizer o que me acontece. Não. Não pode. Ninguém pode. Só pode sozinho. Disseram mas tenho mais do que certeza que sempre estão dizendo ao contrário, só pra distrair gente lerda. Eu sou lerdo. Pisco e já despercebo aquilo que tanto devia perceber. Ao contrario, não vi. Deixei de ver. Juro. Deixei.

Deixei de ver e ceguei demais. Está frio aqui e durante o mês de setembro é raro soltar um agasalho do guarda-roupa e não faz sentido algum. Nem sei também se preciso tanto procurar motivo. Procurar assunto. O papo precisa rolar sozinho e ele acontece. Nunca voltei decepcionado de nenhuma viagem, solto pelo ar. Trazendo de Uma Outra direção assunto novo. Sem querer, causado, não programado. É saudade sim, é saudade de muita coisa.

Ter calma é a chave e o remédio.


Só isso.


Leonardo Fonseca

16 de set. de 2010

- outra reflexão


A conexão caiu. O telefone não funciona. Televisão desligada. Maremotos no Chile, presidente do Equador. Venezuela de vermelho. Gritos e mais gritos, não sabe conversar. O menino cresceu, o menino cresceu. Ele tem tanto medo coitado, mas a culpa é de quem não para de gritar. Sacanagem isso com o ouvido. Esquece e vai pra praia, pro Caribe, volta só depois do almoço, quando sua mãe já estiver cansada de gritar. E como eles gritam, não sabem se acertar. Querem tanto dar tiros, mas com esse medo, impossível.



Para por favor, para! Não precisa disso. Deita sua cabeça senhora, curte a sua vida sem cair tantas vezes. Sem tempo que volta, só vai, não volta. A pele enruga e o que você vai contar? Nada?! Que brigou demais em todas às vezes? De certo, não vale à pena! Pena não vale de nada. Sem julgar, comunico que não te quero como amigo e que essa seja sua sentença máxima. Uma vida sem amizades sinceras e abraços apaixonantes. Pior castigo não existe!



Veio gritando do fundo do corredor até aqui. Sem parar, soletrou tão má educadamente, que na terceira vogal meu botão já estava desligado. Sua boca mastigava o ar e sua língua sambava. Sem samba. Ninguém canta pra você! Deve ser por isso! Por falta de amor, corre e vai amar, ainda dá tempo! Para de reclamar da vida e vive ela. Só!





Só isso mesmo.





Abre o peito para amar, é indolor. Amor não machuca, amor não dói. Se passar?! Passou, pois a vida é uma passagem e tudo sempre caminha para frente. A barba cresce, os filhos também. Deixar de prestar atenção nisso é deixar de fazer valer o desgaste que seus pais tiveram para te trazer ao mundo. Preocupar-se é não dar valor, é sacanagem! Alivia enquanto é tempo. Pois esse, veio só pra complicar.







Reflita Leonardo, Reflita!









Arima Tatsuo








9 de set. de 2010

#PequenasHistórias - Feliz Ano Novo


Lucas me chamou de canto e disse no meu ouvido gritando...







- Ela tá chegando!





- Mano! Quem está chegando?! Visita?







Pestanejou de sombracelha erguida, arreganhada. Espantou, pois não estava a esperar por alguém. Da lista, já estavam todos ali, completos. Ponto de vista? Não sei! Mas Tio Paulo senta ao lado da Tia Hilda, Maria veio com os doces agora a pouco. As meninas estão tomando sol na piscina, mas com um par de olhos puxados, Tia Tereza correu em direção do menino. Espantando. Quem estaria por chegar...








- Lucas! Não era para assustar! Nunca mais te mando dar recado, menino apressado!





- Como assim? Tia está todo mundo aqui, não falta ninguém! De quem ele está falando? Todos vestidos, todos felizes, ainda tem algo por vir?







Voltei ao passado com os olhos fechados, trinta segundos para não assustar. Ela sempre acha que estou dormindo, mas com os olhos fechados pensar fica mais fácil. Atrás da minha retina tem o álbum da “Copa de 94”, perfeitamente estampado. Cafú estava novinho ainda, Ronaldo nem tinha engordado. Memórias em filme, memórias contadas em movimento, lembro de tudo sempre e ali não faltava mais ninguém. Só aquela que resolveu voltar primeiro para casa, ficou com tanta pressa de crescer que perdeu a paciência. Bom, pelo menos sobra mais...








- Menino! Não te disseram nada?! Não disseram da Visita?





- Mas que Visita?








Coçou a cabeça quatro vezes e pôs a mão na cintura. Apoiou a perna de lado. Com a boca fechada, em silêncio, cantou o Hino Nacional. Novelos de feno. Poeira. Coçou a cabeça mais uma vez...







- Visita Tia?! Que Visita?!





- Realmente! Realmente! Agora me toquei menino! Não te contaram! Já vou resolver.








E eu lá entendo? Entendo de nada! Virou as costas, adentrou a cozinha e encostou a porta. Parado, pensei mais um pouco. Ordenei os fatos, calculei! Vamos ver! Nada me falta, tenho paz, tenho amor, tenho uma família, a loucura nunca falta, amigos, companheiros, parceiros das quedas, subidas e comemorações sob a luz das estrelas do norte. Quem estaria por vir? Quem? Algumas pessoas se foram, mas sempre se vai alguém. Vou ser passageiro comigo também. Tento aproveitar até as mastigadas, as pisadas e viagem daqui até a Avenida Santo Amaro, Rua do Meu Trabalho. Sonhar é querer tanto, que não paro de sonhar.





A maçaneta virou, uma mão masculina vinha. Quando rosto surgiu. Meu pai! Com um sorriso curto, começando a crescer! Parecia vir pedir “desculpa”, rosto tímido e um escudo enorme. Entendo pouco de defesa, de ataque, na neutralidade, pensei em vários motivos, mas nada se conectava.






- Filho! Teremos uma visita especial! Espero que goste pois será eterna em nossas vidas, uma peça a mais, uma festa a mais, um voz para chamar pelo teu nome. Uma brincadeira. Um sorriso. Dois sorrisos. Muitos sorrisos. Músicas. Nessa vida que nunca nos falta algo para cantar. Alguém para nos encantar. Notas baixas no colégio. Motivo de orgulho. Primeira bimestre. Primeiro nome. Primeiro dia no colégio. Amiguinhos. Bolo. Festa de Aniversário. Sentir-se bobo. Sentir-se novo. Sentir-se tão encantado que seus pés vão ficar travados. Filho!






Sempre mordo a parte inferior do meu lábio quando expresso meu sorriso bobo, miro os olhos para baixo, respiro fundo. Deve ser a cara mais idiota de todas, mas é essa a cara que eu faço quando meu coração começa a bater mais gostoso. Uma lágrima tímida sobe e tudo brilha. Abracei meu pai.








- Uma irmã?!





- Sofia, filho, Sofia.




















Arima Tatsuo

- pausa para o Lanche.

Lanche.


Se passar devagar
vou pedir só por hoje para ir mais rápido

Se passar rápido
vou pedir só por hoje para ir mais devagar

Como uma criança louca
correndo atrás daquele
futuro que ao menos
conhece, não por medo
mas por ainda não
entender que sonhos
às vezes não tem asas.

Então deixa ser criança
deixa aproveitar o final do dia
depois da aula, jogando bola
vendo o dia acabar.

Um dia vai esperar
até tarde para bater o cartão
e deixar de entender o valor
da vida que passa
cada vez mais rápido
e os cortes com a navalha
todo os dias cedo
preparando a barba
para trabalhar.

Eu sei a falta que faz...

E sei a falta que você tá me fazendo.




Arima Tatsuo

8 de set. de 2010

#PequenasHistórias - Temaki.


- Seis e meia, mãe?! Seis e meia é sacanagem! Liga a TV! Vê e me fala que dia que é hoje?!



- Tem café e pão fresco! Bolo de fubá! Suco de laranja e manteiga.



Raiou o dia cantarolando e sua voz enfeitava a casa da cozinha até o banheiro dos fundos. A Rose não trabalha de domingo, então só poder minha mãe!



- Mas eu posso dormir mais meia hora? Só mais meia hora?!



- Te acordo as oito Meu amor!



Foi só fechar os olhos que já comecei a sonhar. Foi de supetão! No primeiro capítulo tive um sonho normal, básico. Beijei quem não me ama mais, mas é normal sonhar com ela, o que posso fazer? Quase levantei, mas na terceira respirada o sono ficou empolgante.

...



Uma terra onde todos colaboram. Duas casas e um jardim bem verde. Parecia uma fazenda, mas não havia animais por ali, a não ser um cachorro de pelo malhado e uma família de gatos. Cinza, marrom, um preto já meio acabado. Banheiros coloridos, paredes verdes. Na cozinha um fogão a lenha pintado de azul. Uma cozinheira daquelas bem gordas. Cozinheira precisa ser gorda! Folhando os classificados eu achei uma vaga de emprego onde era necessário ter peso. Entender da própria comida, não é?!



Logo na entrada um aviso, imprimido dizia:



- Vá com calma!



- Aproveite seus passos!



...aqui isso é o suficiente



Ao finalizar a leitura do aviso, pessoas surgiram pela casa. Vindas dos quartos. Todos de uma vez, sessenta e poucos. Andavam todos devagar. Riam muito, de qualquer coisa, e meu deus, como é bom perceber isso. Tudo é motivo de piada e nunca é de mau gosto. Meninas cantavam. Tinha tanto espaço ali, que lugar para gastar energia achava-se aos montes. Ir ali, já era longe. Da pra ir correndo, mas é proibido!



Todos se pareciam. Seus olhos! Quando me perceberam, veio um na minha direção. Cheirava bem, me pegou com um braço e juntou meu peito com o dele. Com sua mão esquerda me agarrou, puxando pelas costas. Tombou a cabeça no meu ombro e apertou. A mão que estava atrás deslizou sozinha duas vezes. Soltou-me! Deslizando os dedos do meu cotovelo até a ponta da minha mão. Segurou as duas com força. Quando se conectaram, raios azuis de energias boas passavam de lado um para o outro.



O ar ficou mais leve. Fui solto em dois minutos, mas foi só esse abraço acabar que todos começaram a me abraçar em ordem aleatória e todos tinham poder nas mãos. Alguns raios eram de outros tons, mas todos faziam meu corpo parecer uma pena.



Serviram-me um banquete! A cozinheira gorda perguntou meu prato predileto, falei. Em dois segundos a mesa já estava posta. Alface americana, arroz branco, um grão mais amado que o outro. Tomates frescos, gelados. Cubos de queijo, cebola e molho. Decorei a paisagem no fundo do meu prato e sobrevoei o Pacífico Norte com o garfo. Fui até o Havaí. Aproveitei cada viagem até a minha boca. Despejava e fazia passear cada grão em todos os espaços possíveis antes de engolir. Preste atenção na forma, agradeça, respeite. Mastigue com calma.



Alguns após a refeição foram esticar seus corpos em redes espalhadas. Atrás da casa da direita. Grande parte verde e uma mangueira enorme, no mínimo cento e cinquenta anos. Gorda, cheia de frutos. Me senti tão em casa que percebi que meu pai estava colhendo mangas. Dificilmente sonho com parentes. Descalço na grama, só acenou para mim. Caminhei até atrás da árvore. Percebi um banco e uma senhora sentada. Cantando.



- Brinco aqui desde criança! Costumo apreciar a paisagem deste ângulo da vida. Quarenta e cinco graus de inclinação do olhar. Repara ali! Consigo ver que moramos realmente um planeta redondo que gira. Ele não para de girar. Adianta cada ponteiro que o ser humano inventou.



A senhora se parecia muito comigo, quando a via falando me ouvia. Sua língua pegava no fundo da boca nas palavras com muitas letras “S”. E meu ouvido parecia tapado, meu coração que escutava, percebia e anotava.



- Senta aqui! Vem fazer o tempo parar!



- Mas como se faz isso?



Duvidei mais do que em Doende de Papai Noel.



- Naquele que só vai para frente, é parando que se fica mais um pouco. Quando der passos, coloque primeiro a parte de trás do pé, depois à frente. Deixa o seu sapato contornar direito pelo chão. Puxa o ar pelo nariz e solta pela boca, lentamente. Ouve o baixo, ouve a guitarra, o tom do vocalista. Capítulo vinte do “Poesias que rimam o seu amor”. Percebe que o “A” existe e que o “B” é fundamental. Cai de paixão oitenta vezes por dia.



- mas como posso?



Impossível ter amor o tempo todo! Impossível não se preocupar! Parecia loucura.



- Ame respirar, ame estar vivo, é para isso que venceu o sorteio entre milhares de espermatozóides. Quarenta e seis cromossomos não estão formando seu nome e sobrenome à toa. Justifica o trabalho da natureza. Seu presente vai virar passado e o que você vai contar? Que odiava lugares lotados?! Que tinha várias ressacas aos finais de semana e que um chefe chato falou na sua orelha durante vinte e quatro anos?! Foi assim? Prefere?



Abri um sorriso! Melhor forma de responder.



- Se importe menos e abrace mais. Devolva em dobro! Ajude. Colabore. Evite. Segunda da semana que vem, fará parte de um tempo que ainda desconhece. Preste atenção no agora. Cinco dias vividos são cinco dias evoluídos. Foram cinco momentos contínuos que somam pequenas novas experiências. É progressivo. Um caminho só. Se preocupe menos. Tira o peso das costas...



Depois da última palavra o céu começou a escurecer. Ventava muito também. Em instantes tudo estava azul escuro, com detalhes pretos e restos de nuvens, cinzas, quase prateadas, refletindo a luz da lua. Exatamente quatrocentas e vinte mil estrelas, no que deu para contar. Dava para escolher as Três Marias no Leste, oeste, sul e até para sudoeste. Reparei e a senhora sumiu.



...



Ajeitei-me na grama e agradeci. Que fique para sempre! São fotos mentais que nunca se apagarão, do carinho que nunca me faltará. Paz, amor, harmonia...



























Barulho na porta









































- Filho! São oito e meia, vem aproveitar!






Arima Tatsuo




1 de set. de 2010

#PequenasHistórias - Como na música do Clash.


- Mãe! Mãe! Cadê você?!



Ela não me escutava, não adianta



- mãe?! – Interrogação -! Mãe?!



Pra que continuar? Ninguém te escuta. Silêncio! Por favor, mantenha a calma. Comporte-se menino, isso não é jeito de gritar por ai. Está perdido?! Então se ache! É sua obrigação se achar!



- Onde você foi parar porra?!



Mãe. Estava no corredor do shopping e todos andavam com as mãos, alguns no teto também. Sério! Andavam no teto normalmente, como se fosse chão. Sei lá, não entendi muito bem. Minha calça estava molhada . Não, não estava suja, só estava molhada. Derrubei um copo cheio, mas refrescou. Fazia calor naquele inverno, trinta e poucos graus, coisa assim. Tentei te ligar pela manhã, nove horas, mas seu celular estava desligado, caixa postal, desliguei. Maldita bateria! Maldita tecnologia. Todos trombavam em mim, não contentes só com a maneira estranha como transitavam. Sentido reverso, pelo lado contrário, oposto. Esse imposto pela ocasião não me explica muita coisa, mas compreendo e sigo.



Quando minha calça secou de vez, todos voltaram ao normal. O nosso normal, não o normal deles. Andavam com a coluna reta, pé no chão. Cabeça no lugar, pescoço estalado. Ninguém trombou mais. Procurei alguma porta e adentrei. Acabei por vez em entrar em um supermercado. Tentei ligar mais uma vez, mas você sumiu! Não acredito que não consegui falar com você. Não acredito! Por todas as vezes que liguei por besteira. De mentira. Não sabia onde você estava e continuei procurando. Fui até o corredor de frios e congelei. Uma japonesa gordinha, bracinho, ali! Do lado!



Não era você.



Meu coração bateu três vezes em vão e o mundo ficou verde, bateu mais cinco e todos estavam andando estranho de novo. Agora mais forte! Pra cima de mim com muita força, o corredor ficou tão apertado. Não conseguia fugir, tropeçava e chutavam a minha cabeça e o telefone funcionou. Todos sumiram mais uma vez. Chamou uma, sinal, mais uma, atendeu! Mas não falava a minha língua. Fiquei tão desesperado. Bati com força a cabeça na parede e apareci de cueca em meio às frutas. Bem no corredor de frutas!



Meu peito ficou frio, meu corpo ficou gelado e parecia que ia congelar. Que horrível! O mundo estava parado, agora não tinha movimento. Não tinha ninguém fazendo nada. Silêncio absoluto. Só meu coração que cantava além do limite e do respeito por aquele ar leve. Cheiro de queijo. Muito cheiro de queijo. Virei olhei, percebi, corri atrás. Estava só de cueca, samba e canção azul com listras vermelhas. Tenho certeza, alias, tinha certeza absoluta. Abri meu peito e tirei uma rosa vermelha, linda.



Dei quatro passos e











Acordei.








Sei lá. Sabe?!

Momento de Reflexão.

O mês de setembro sempre me inspira muito. Na vida prática, emocional, no trabalho e nas ocasiões, aparecem-me quinhentas imagens mentais que aguçam sempre o lado criativo do meu cérebro. Parei para refletir, desfrutando do meu vício, escrevendo, pensando e agradecendo cada novidade.

Viver é sentir e estou sentindo muita coisa. Estudando, evoluindo, procurando, encontrando e duvidando sempre, para calcular direito e aproveitar da melhor forma o momento presente, poucos arranhões por uns tempos, sem colapsos e variações de humor sem motivo.  

Só quero crescer e dentro de tudo que posso pedir a Deus nessa oração, peço-lhe apenas um pouco de luz, pois cada pensamento futuro, se a vida permitir, já virá muito bem iluminado.



Leonardo.